Há uns dias perguntaram-me
se eu acreditava nesta coisa do amor para sempre.
Foi uma conversa pouco
provável, tida com uma pessoa ainda mais improvável. Porque a pergunta foi
feita por um miúdo de 20 e poucos anos, giro que dói, na flor da idade e no
auge da sua sexualidade.
Tenho que confessar que fui
surpreendida pela profundidade da questão. Querer perceber isto do amor para
sempre seria, à partida, um tema pouco interessante para um jovem desta
idade.
Achava eu. Mas há
exceções. E ainda bem.
Explicava-me que gostava de
namorar mas que não pensava prender-se facilmente por nenhuma miúda.
Confessou-me ainda que
perdia rapidamente o interesse por elas porque, ou eram demasiado atrevidas ou
demasiado acriançadas. Não lhe prendiam a atenção. Nem o coração.
Falou-me apenas daquela que
ficou longe, na terra onde cresceu, e que encontrava sempre que lá ia. E que de
alguma forma ainda mexia com ele. Mas já com alguma distância no discurso, senti eu.
Tenho quase 39 anos e, por
isso, alguma experiência de vida. Respondi-lhe com o que ela me ensinou: que
todos nós tinhamos um botão de alarme com dois níveis.
Que o primeiro era
inflamação, vontade, corpo, “beijo à filme” e pressa em viver tudo num segundo.
Era sofreguidão, vontade de estar, "nunca-mais-chega-a-hora-nunca-mais-chega-a-hora”. Algumas vezes, dor e
lágrimas. O segundo era calma, tranquilidade, saborear, companheirismo,
partilha de interesses e de opiniões, conhecimento, união, um
“eu-estou-aqui-contigo-e-para-ti”. Complementaridade.
Que o primeiro durava
pouco, tirava-nos o sono e o apetite, mas que era maravilhoso porque nos fazia
sair da cama num salto. E que o segundo nos devolvia a paz, a tranquilidade, a vontade de existir devagar, um dia de cada vez. E que nos fazia sonhar com um
“eu quero mesmo viver para sempre assim”.
Mais. Que também havia
casos, raros mas havia, em que o 1º e o 2º nível do botão tinham uma relação muito
equilibrada e durante muitos anos.
Ia-me acenando com a
cabeça, como quem vai percebendo devagarinho que ainda tanto tem para viver. E
aprender. E descobrir.
Apesar de alguma
desconfiança, ouviu a minha opinião. Pareceu dar-me o benefício da dúvida e
acreditar que o destino ainda ia acabar por lhe trocar as voltas e passa-lo
para o 2º nível. Na minha opinião, fazê-lo subir de nível.
No fim da conversa pareceu-me um bocadinho assustado. Só que igualmente curioso para ver o que podia vir dali.
No fim da conversa pareceu-me um bocadinho assustado. Só que igualmente curioso para ver o que podia vir dali.
Não sou a pessoa mais
crente nos jovens desta geração. Mas, se existem cabeças destas, acho que vou
ter que mudar de opinião...