11 de fevereiro de 2017

Eu quero.




"O que é que tu não podes fazer agora que estás de cadeira de rodas?"

Perguntaram-me isto há uns dias, depois de uma palestra em que a ideia era partilhar a minha história em 10 minutos.

Pensei uns segundos e, porra, não conseguia lembrar-me de nada. Perante uma plateia atenta, saiu-me a resposta “subir escadas.” E rematei com um “mas subo rampas como ninguém”, seguido de uma gargalhada.

Na altura aquilo pareceu-me parvo e pensei “que bela figurinha, Marta Canário”, mas a verdade era aquela. E, mesmo que pense mais do que uns segundos, não me ocorre mais nada que eu não possa fazer, por estar de cadeira.

Hoje, por exemplo. 

Acordei, olhei para o meu quarto e pensei “hum...aqueles móveis ficavam melhor se os trocasse de lugar um com o outro”. Até aqui tudo bem, queria mudar a disposição daquilo, bastava-me um “Mãããe, anda cá ajudar-me!” E ela vinha. 

Pois, mas hoje não há mãe em casa, foi trabalhar. 

Estava sozinha.

Deixei de mudar o raio dos móveis? Não. Fiz por fases. 

Primeiro, tirei tudo o que estava em cima deles e que podia cair. Depois, arrastei um, devagar, empurrei-o com a força que tenho de braços – e tenho muita -, tranquei-o contra os pedais da cadeira e dei às rooodaaaaas. Dasse! Centímetro a centímetro, desloquei-o até à outra ponta do quarto. Caminho aberto para o outro, fiz o mesmo: centímetro e centímetro, parando aqui e ali para ganhar fôlego, arrasta, arrasta, só mais um bocadinho e...já está! Os móveis ficaram exatamente como eu queria. Feito. Siga.

E a palavra é mesmo esta: querer. Se não é de uma forma é de outra. Se não é mais fácil é mais difícil. Se não é de seguida, é por etapas. Mas não fazer “por estar de cadeira de rodas”?

Para além da questão das escadas, não me ocorre mais nada, sinceramente.

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