Agradecemos
pouco. Deixamos a vida passar rápido demais e não nos lembramos de o fazer.
Começamos o dia a
mando do despertador e com os minutos contados. O meu toca quase sempre um
pouco antes das 7h. A partir daí, é sempre a abrir: 10 minutos para o pequeno almoço, 5 para o banho, 30 para me vestir e maquilhar, 10 para deixar a casa em
ordem, quase 1 hora para o caminho até à empresa.
1ª reunião,
sessão de fotos, almoço com colega, 2ª reunião. Quando dou por mim são quase 7
da tarde e termino o dia de trabalho a mergulhar num projeto de
responsabilidade social que me inunda o coração de ternura e que reforça a
minha esperança no ser humano.
Táxi atrasado,
aproveito e arrumo mais uns emails antes de sair, para me distrair. Mas não
consigo evitar: os “fornicoques” para chegar à festa são lixados.
Já a caminho,
comento com o motorista, que me conhece os hábitos, que vou festejar os Santos
Populares para o Campo Pequeno. “Campo Pequeno?” pergunta ele, sabendo que dali
não vinha nenhuma tradição. Respondo que é o 2º ano que a equipa Revenge of the 90’s organiza um arraial naquelas bandas, e que desta vez esperamos umas 20 mil
pessoas. E digo “esperamos” sem esconder o orgulho de sentir que faço parte da
equipa. “Então e depois como é que vai para casa?”, pergunta-me. Descanso-o
dizendo-lhe que combinei ligar para outro senhor que trabalha durante a noite, que
no limite tenho que esperar um pouco porque é noite de Santos e não se fazem
marcações, mas que se for preciso espero, sem problema. Responde-me “ligue-me que eu
venho busca-la. É só o tempo de tomar um duche, vestir-me e venho. Quem começa
a trabalhar às 6h, começa às 5h.”. Percebi que nem valia a pena tentar
dissuadi-lo, restou-me agradecer, muito, e aceitar.
Estaciona,
tira-me do carro e fecha-o, porque me quer deixar mesmo no sítio “onde estão os
seus amigos.” Mais uma vez sem hipótese, agradeço. Nesta altura aproximam-se 2
seguranças e dizem “podemos ajudar? Nós levamo-la.” Olho para o motorista, e
ele para mim sem tirar as mãos da minha cadeira, aceno positivamente, ele
liberta-a e lá me deixa com aqueles dois homens que, do nada, quiseram ajudar.
“Ligue-me 30 minutos antes de se querer vir embora, que eu venho.”, relembrou ainda.
Entro na festa,
encontro amigos em todo o lado, gente que não via há anos, outros tantos com
quem combinei ali estar. Reparo no varandim, estrategicamente colocada pela
produção perto da zona VIP, e na rampa que lhe dá acesso. “O palco é mais
pequeno, desta vez pode ser mais arriscado ires lá para cima, mas daqui vês
tudo e estás perto de um wc adaptado, se precisares”, diz-me alguém da equipa
que sabe que são questões fundamentais para mim. Isto deixa-me descansada, eu
que arranco sempre sozinha para estas festas, fazendo questão de não estar
dependente de ninguém mas que, para que tudo corra bem, preciso de algumas
condições. Ali estavam todas asseguradas e por pessoas que me conhecem há pouco
mais de 6 meses.
Por opção,
decido ir antes para a frente de palco, situado no lado oposto, onde o meu
grupo de amigos estacionou, deixando para pensar em como chegar ao wc apenas na
altura em que precisar. Quem me conhece, não me reconhece nesta decisão, eu que,
por regra, quero tudo planeado ao minuto e com antecedência.
Danço, canto,
como nunca cantei ou dancei, e até descubro que sei mais letras de música pimba
do que aquilo que esperava. Algumas horas depois, torna-se inevitável: preciso
de uma casa de banho. Pergunto a outro membro da equipa qual a melhor forma de lá
chegar. 10 minutos depois tenho outros 2 seguranças prontos para afastar 20 mil
pessoas até ao espaço preparado para mim. Uma aventura, que acaba bem, comigo
pronta para mais algumas horas de pura diversão.
A certa altura já não aguento o frio (e de levar com os confetis), por isso recolho-me na tenda de apoio ao palco, onde me continuo a divertir à grande. Quando dou conta, sou rodeada por parte da equipa, que me pega na cadeira e me sobe até ao palco, onde outros já puxavam, como fazem sempre, pelo público. De repente, aquele espaço, que antes era pequeno e arriscado, ficou enorme e seguro com olhos deles postos em cima de mim. Não estava previsto e eu percebia porquê, fui apanhada desprevenida, mas a verdade é que a minha noite ganha outro colorido vivida dali. E eles sabem disso.
A certa altura já não aguento o frio (e de levar com os confetis), por isso recolho-me na tenda de apoio ao palco, onde me continuo a divertir à grande. Quando dou conta, sou rodeada por parte da equipa, que me pega na cadeira e me sobe até ao palco, onde outros já puxavam, como fazem sempre, pelo público. De repente, aquele espaço, que antes era pequeno e arriscado, ficou enorme e seguro com olhos deles postos em cima de mim. Não estava previsto e eu percebia porquê, fui apanhada desprevenida, mas a verdade é que a minha noite ganha outro colorido vivida dali. E eles sabem disso.
Um arraial - de quem nunca ligou “pêva” a arraiais - que teve direito ao jantar
trazido pela Andreia, às garrafas de água sempre perto, graças ao Tiago, à
alegria da Sandra e da Isabel, ao “conhecemo-nos há pouco tempo, mas houve aqui qualquer coisa...” da Mané, à ternura do Miguel, aos high-five do Paulo, à
graça da Mória, às piadas dos Brunos, ao sorriso da Tatiana, à loucura boa do
Dúdú, à cara “Marta, és doida” do Véstia, e às 234 vezes em que respondi a
vários membros da equipa “sim estou ótima, não preciso de nada, obrigada”.
Uma noite em que
terminei aquecida pelo blusão do vizinho da frente que não acreditou quando me
viu “a correr de um lado para o outro no palco”, com quem partilhei o táxi para a casa, numa conversa boa que fez com que ele deixasse de ser “o
vizinho da frente, porreiro, com uma família gira”, para ser o Kiko.
Nunca o meu colo
foi tão de tantos como ontem. Mas o que eles não sabem ainda, é que os seus colos também já são um bocadinho meus.
A todos os que
me deram isto tudo, retribuo com um OBRIGADA assim, grande, para que se veja
e sinta, de jeito.
💗