Adeus 43, olá 44.
É nesta altura que gosto de fazer o balanço do ano. Quando
pego no número e lhe acrescento mais
um.
Olhando para trás, para os 12 meses dos 43, vejo vários
momentos que me marcaram. Na sua grande maioria, bons. Os outros, que também
tive, usei-os para crescer e para me tornar ainda mais resistente (agora imaginem…).
Desenganem-se aqueles que pensam que estou sempre bem
disposta, sempre on fire, sempre pronta para tudo. Não, não estou. A verdade é
que não estou “sempre” nada. Ninguém está sempre “nada” nem sempre “tudo”. Como
todos, tenho dias. Dias “assim” e dias “assado”. E nos “assado”, acordo sem
energia, insuportável, só faço merda e, cereja no topo do bolinho, em muitos
deles tenho que ser um poço de simpatia com algumas dores, o que piora o
cenário.
É como na loja do chinês, há de tudo. E, durante os 43, houve
mesmo de tudo. Mas, venha de lá essa balança, porque ela vai comprovar que este
foi mais um ano incrível. Se não, vejamos:
Arranquei-o em cima de um palco, aos pulos, com confettis
até às cuecas, rodeada por uma equipa de malta feita da mesma massa que eu: que
gosta de ser feliz e de fazer os outros felizes.
Magoei e fui magoada. Umas vezes por querer, outras, quase
todas, sem querer. Sem querermos.
Retomei amizades antigas. Fiz novas. E daquelas que sentimos
que vão ficar.
Tive dias em que acreditei em Deus, outros em que achei que
só podiam “andar a brincar comigo”.
Senti-me poderosa e frágil, ao mesmo tempo. Sexy e
trambolho, também ao mesmo tempo.
Perspicaz e esperta que nem um alho, naqueles dias em que
absorvia tudo à primeira, “um calhau com olhos” noutros, em que achei que só
tinha capacidade suficiente para ler os livros que compramos aos nossos filhos
quando eles estão a aprender as cores ou os nomes dos animais.
Apeteceu-me ajudar a mudar o mundo às 2ªs, 4ªs, e 6ªs, e às
3ªs e 5ªs só pedi para que o mundo me esquecesse, e me deixasse estar
esparramada na minha cama, de phones nos ouvidos, sem me chatear.
(antes que perguntem, ao fim de semana preferi fazer sestas
longas no meu quarto - o meu hobby preferido - ou paralisar ao sol, e focar-me
em ganhar finalmente um tom mais saudável, que isto de ser amarela no inverno
não é bonito de se ver e há que investir algum tempo para minimizar a coisa.)
Dei colo a todos de manhã, precisei do colo dos outros à
noite. E tive. Se tive.
Num mês quis voltar ao cabelo castanho e libertar-me da
ditadura de quem o pinta, no outro voltei a encantar-me pelas ondas loiras com
que saía do cabeleireiro.
Tive dias em que abri o frigorifico e devorei metade do
chouriço à trinca, outros em que decidi voltar às saladas e aos grelhados.
Ouvi baladas que me fizeram chorar ao deitar, no dia
seguinte levantei-me ao som de uma rockalhada, um heavy metal ou uns “martelos”
dignos de uma rave pastilhada.
Houve alturas em que fotografei uma refeição ou a minha cara
para partilhar com o mundo, outras em que achei o mundo social tão ridículo e
estupidificante, que quis apagar-me de lá.
Tive momentos em fiz tudo “daquela forma”, achando “vá,
Canária, assim é que é, claro que está certo, miúda” e outros em que, quando a
Canária deu por ela, apeteceu-lhe pôr tudo em causa.
Nuns dias vivi e quis esticar as horas, noutros limitei-me a
sobreviver e a querer que elas passassem rápido para chegar o dia seguinte.
Os 43 tiraram-me algumas coisas que preferia que tivessem
ficado. Mas também me deram isto tudo, e em doses generosas. Foram 365 dias a
abarrotar de milhares de momentos inesquecíveis e vivi-os o melhor que soube.
Agora são vocês, 44. E tragam sorte, meus queridos, porque
superar a loucura boa dos vossos antecessores não vai ser tarefa fácil.
De resto, já sabem: sou muito exigente e as minhas expetativas
são altas, como sempre. Agora não me falhem. Porque eu não falharei quando
fizer a minha parte.
Palavra de uma Canária cada vez mais louca, mas cada vez mais com um coração maior.