21 de setembro de 2019

44: é para dar tudo


Adeus 43, olá 44.

É nesta altura que gosto de fazer o balanço do ano. Quando pego no número e lhe acrescento mais 
um.

Olhando para trás, para os 12 meses dos 43, vejo vários momentos que me marcaram. Na sua grande maioria, bons. Os outros, que também tive, usei-os para crescer e para me tornar ainda mais resistente (agora imaginem…).

Desenganem-se aqueles que pensam que estou sempre bem disposta, sempre on fire, sempre pronta para tudo. Não, não estou. A verdade é que não estou “sempre” nada. Ninguém está sempre “nada” nem sempre “tudo”. Como todos, tenho dias. Dias “assim” e dias “assado”. E nos “assado”, acordo sem energia, insuportável, só faço merda e, cereja no topo do bolinho, em muitos deles tenho que ser um poço de simpatia com algumas dores, o que piora o cenário.

É como na loja do chinês, há de tudo. E, durante os 43, houve mesmo de tudo. Mas, venha de lá essa balança, porque ela vai comprovar que este foi mais um ano incrível. Se não, vejamos:

Arranquei-o em cima de um palco, aos pulos, com confettis até às cuecas, rodeada por uma equipa de malta feita da mesma massa que eu: que gosta de ser feliz e de fazer os outros felizes. 

Magoei e fui magoada. Umas vezes por querer, outras, quase todas, sem querer. Sem querermos.

Retomei amizades antigas. Fiz novas. E daquelas que sentimos que vão ficar.

Tive dias em que acreditei em Deus, outros em que achei que só podiam “andar a brincar comigo”.

Senti-me poderosa e frágil, ao mesmo tempo. Sexy e trambolho, também ao mesmo tempo.

Perspicaz e esperta que nem um alho, naqueles dias em que absorvia tudo à primeira, “um calhau com olhos” noutros, em que achei que só tinha capacidade suficiente para ler os livros que compramos aos nossos filhos quando eles estão a aprender as cores ou os nomes dos animais.

Apeteceu-me ajudar a mudar o mundo às 2ªs, 4ªs, e 6ªs, e às 3ªs e 5ªs só pedi para que o mundo me esquecesse, e me deixasse estar esparramada na minha cama, de phones nos ouvidos, sem me chatear.
(antes que perguntem, ao fim de semana preferi fazer sestas longas no meu quarto - o meu hobby preferido - ou paralisar ao sol, e focar-me em ganhar finalmente um tom mais saudável, que isto de ser amarela no inverno não é bonito de se ver e há que investir algum tempo para minimizar a coisa.)

Dei colo a todos de manhã, precisei do colo dos outros à noite. E tive. Se tive.

Num mês quis voltar ao cabelo castanho e libertar-me da ditadura de quem o pinta, no outro voltei a encantar-me pelas ondas loiras com que saía do cabeleireiro.

Tive dias em que abri o frigorifico e devorei metade do chouriço à trinca, outros em que decidi voltar às saladas e aos grelhados.

Ouvi baladas que me fizeram chorar ao deitar, no dia seguinte levantei-me ao som de uma rockalhada, um heavy metal ou uns “martelos” dignos de uma rave pastilhada.

Houve alturas em que fotografei uma refeição ou a minha cara para partilhar com o mundo, outras em que achei o mundo social tão ridículo e estupidificante, que quis apagar-me de lá.

Tive momentos em fiz tudo “daquela forma”, achando “vá, Canária, assim é que é, claro que está certo, miúda” e outros em que, quando a Canária deu por ela, apeteceu-lhe pôr tudo em causa.

Nuns dias vivi e quis esticar as horas, noutros limitei-me a sobreviver e a querer que elas passassem rápido para chegar o dia seguinte.

Os 43 tiraram-me algumas coisas que preferia que tivessem ficado. Mas também me deram isto tudo, e em doses generosas. Foram 365 dias a abarrotar de milhares de momentos inesquecíveis e vivi-os o melhor que soube.

Agora são vocês, 44. E tragam sorte, meus queridos, porque superar a loucura boa dos vossos antecessores não vai ser tarefa fácil.

De resto, já sabem: sou muito exigente e as minhas expetativas são altas, como sempre. Agora não me falhem. Porque eu não falharei quando fizer a minha parte.

Palavra de uma Canária cada vez mais louca, mas cada vez mais com um coração maior.



19 de setembro de 2019

Sou uma nuvem

Pronto ok, é verdade aquilo que se diz por aí: não consigo estar sossegada num cantinho, e acho sempre que tenho espaço para mais uma novidade na minha vida.

Na realidade, os últimos 2 anos têm sido muito isto. Arriscar. Sair do "meu normal". Ir. Sem medo. Quero, vou atrás. Nunca o fiz? Sem problema, faço agora.

As coisas (que podem ser projetos ou pessoas) aparecem-me à frente, fico curiosa, conquistam-me e acabo por querer encaixá-las nos meus dias.

Quando isto acontece, pergunto-me: consigo? E, se gosto mesmo, se quero mesmo, respondo: hey, claro que consigo!

Foi assim que a Nuvem Vitória entrou na minha vida.

Conheci o projeto através da minha amiga Fernanda Freitas. Fiquei curiosa, procurei saber mais, deixei-me conquistar pelas informações que recolhi, quis encaixá-lo na minha vida. Na altura não foi possível. Passou quase um ano.

Mantive-me atenta ao terreno que ele ia conquistando. Deixei-o adormecer mas não o deixei morrer. E, finalmente, o projeto chegou-me quase à porta e a um dos locais mais especiais para mim: o Hospital Garcia de Orta, onde passei alguns dos piores momentos da minha vida, mas também dos melhores, com as pessoas que trouxe de lá comigo.

Naquele dia a Nuvem tinha acordado e nem precisei de pensar: peguei no telefone, liguei à Fernanda e, depois de 5 minutos de conversa, inscrevi-me.

Na altura ainda não sabia muito bem como é que ia conseguir encaixar tamanha responsabilidade na minha agenda semanal, já tão desafiante. Mas não quis saber, tinha que conseguir. E “tinha” porquê? Porque eu queria muito.

A formação foi este fim de semana. 100 pessoas. 100 homens e mulheres de exceção. “100 Nuvens”, como dizemos, cheias de vontade de fazer a diferença na vida de crianças que estão internadas em algumas das pediatrias de alguns dos nossos hospitais. Como? Levando com elas histórias para as ajudar a adormecer em paz.

Do outro lado, estariam pernas partidas, apendicites, mas também situações muito graves e tantas vezes até difíceis de aceitar que aconteçam a seres humanos tão pequenos, frágeis e inocentes. Miúdos marcados pela dor, pela frustração de não poderem ter uma vida normal, “como os colegas lá da escola”. Famílias que se viram e reviram para lidar e aceitar uma realidade injusta. Gente, como nós, que tentamos que mergulhem naqueles 5 ou 10 minutos que duram a história e consigam “esquecer” um bocadinho aquela dor. 5 ou 10 minutos de uma espécie de esperança que lhes sussurra ao ouvido aquele “calma, vai correr tudo bem” que tanta diferença pode fazer no meio daquela agonia.

E porque quis muito - e porque soube esperar - a partir de hoje, vou terminar algumas das minhas noites com um “Vitória, vitória, acabou-se a história.”

Minha gente, a partir de hoje sou, orgulhosamente, uma Nuvem Vitória.