21 de janeiro de 2021

Por todos

É mesmo necessário reduzir o beijo e o abraço. O almoço com o colega, a conversa rápida de corredor.

Já basta quem não tem qualquer hipótese e precisa de circular entre muitos. 

É difícil, todos sabemos, porque somos de seres de relação, latinos, e o toque corre-nos no sangue.

Concordemos ou não com esta ou aquela medida, deviamos unir-nos na única coisa que está à vista de todos: os números estão uma treta, os hospitais estão cheios de gente internada e demasiada em cuidados intensivos, os profissionais de saúde estão esgotados e, pelo meio, tantas e tantas pessoas a morrer.

Guardem os vossos fatos de treinadores de bancada, arrumem os vossos chapéus de especialistas de trazer por casa, encolham os vossos dedos acusatórios.

Esqueçam um bocadinho as cores que defendem e percebam que, por agora, o importante é baixarmos as armas e tentarmos combater/controlar este merdoso deste gigante que está por todo o lado e que, mesmo que não mate, trama a vida de quem se cruza com ele.

Sei que muitos dirão que as medidas estão erradas, que o caminho é outro, que o desafio sanitário está demasiado preso às tramas políticas, e que somos governados há muitos anos por máquinas globais de interesses que nos ultrapassam, argumentos que respeito e, com alguns, até concordo.

Mas não é altura para isso. É altura de olharmos para quem sofre mais com esta porcaria e tentarmos ultrapassar isto todos juntos.

Deste lado fala-vos alguém que não perdeu familiares, não perdeu emprego, não perdeu rendimento, não perdeu juízo, mas que também não perdeu a esperança no que de melhor o ser humano tem: a capacidade de se mobilizar, na altura certa, para ajudar quem precisa.

(Aos que não conseguem ver as coisas assim, respeitosamente, saiam do meu radar, porque eu quero e vou continuar a acreditar que conseguimos todos remar para o mesmo lado).