Há uns
dias, falava com um colega - daqueles bem posicionados - que me dizia “sim,
marca esses almoços porque eles têm que querer conhecer-me”. Bem sei que dito
assim, a seco, soa malzote – na altura eu própria ia saltando da cadeira - mas,
passado o primeiro impacto e contextualizando na conversa, nem tanto. As tais
pessoas que eu queria convidar para almoçar com ele, se fossem boas profissionais,
deviam sim, querer conhecê-lo. E eu até sei que querem.
Claro que
não lho disse desta forma. Limitei-me a sorrir e a responder-lhe “sim, talvez,
mas onde enfiaste aquele meu colega humilde, característica que sempre te
caracterizou?”.
A nossa
conversa fluiu a partir daí. Falámos do nosso passado e da forma como os nossos
pais nos tinham educado. Acima de tudo, amado. Sentíamo-nos ambos bem
em termos de auto-estima. Tínhamos ambos boas bases, tínhamos ambos sido suficientemente
elogiados enquanto crianças, adolescentes e, por fim, também em adultos.
Lembro-me
de ser miúda e de ouvir a minha mãe a dizer-me como estava gira, como era
esperta, como se orgulhava de mim. Mas atenção que também me lembro dela a partir-me
a cabeça, não fosse dar-se o caso de eu encetar uma longa “viagem na
maionese”, na “minha própria maionese”, e esquecer-me de deixar os pezinhos bem
assentes no chão.
Mas este
é um tema tramado. Mais tramado do que aquilo que pensamos. Porque nem sempre
controlamos a coisa.
E tanto
que até eu, rapariga habituada a gostar e a acreditar em mim, tão fortemente educada
para isso, já dei por mim a pensar “será que sou mesmo boa no que
faço? Será que estou à altura deste desafio?”. E, muitas vezes, a primeira resposta
é “se calhar não.”
Devo
confessar que, quando isso acontece, fico com o estômago tão apertadinho que nem uma azeitona lá cabe
dentro. Passo dias a pensar no assunto, com o coração a perder tamanho. A
bater mais rápido. E a ralhar com o mundo.
Depois
falo com aquelas pessoas que me puxam para cima – os amigos -, que já tanto passaram
comigo/por mim, que tão bem me conhecem. Aqueles a quem não precisamos de rir quando,
de facto, preferimos chorar. Aqueles a quem podemos dizer tudo o que nos vem à
cabeça, porque sabemos que do outro lado nos ouvem sem julgamentos. Os mesmos que não
ousam interromper o nosso discurso “Florbela Espanca”. Que nos deixam falar e
falar e falar e falar…e só respondem no fim com um simples mas firme "enlouqueceste? Era o que
faltava não conseguires.”
Dá-me um clique. Dá-me um clique e volto a
lembrar-me do que me fez chegar onde cheguei, ultrapassando o que ultrapassei.
Volto a
lembrar-me que, mesmo que o prato da balança de quem não acredita em mim, tente
desequilibrar o meu mundo, não tem a força do prato oposto, porque este abarrota
de gente que me considera.
Dá-se o
regresso à normalidade. O meu estômago volta a abrir as portas a um bom repasto.
O coração volta a preencher o espaço que o meu corpo lhe destinou desde sempre,
aconchega-se por ali, e passa a bater como devia. Já deixar de resmungar é sempre
mais difícil mas, vá, passo a resmungar menos.
Com tudo
a voltar ao lugar, volta também a vontade de definir um objectivo e um caminho
para lá chegar. Com tudo a voltar lugar, volta também a determinação de mostrar
que controlamos a situação como ninguém. E de colocarmos aqueles que fizeram
questão de nos pôr em causa no seu lugar. Fazê-los ver que, enquanto agirem
assim, esse lugar há-de ser sempre um quarto escuro, abafado. Acima de tudo, um
lugar isolado e onde não cabe qualquer bocadinho de felicidade.
Mas é preciso respirar
fundo e tentar ser melhor que eles. Mesmo a custo, enfiar um bilhete por baixo
daquela porta a explicar que, se um dia quiserem mudar, haverá sempre alguém por
perto para dar uma ajuda. Quanto mais não seja, uma ajuda a melhorar, eles sim, a sua auto-estima.
Ou como dizia o outro, que por acaso era um génio e se chamava Shakespeare, "é um péssimo cozinheiro aquele que não pode lamber os próprios dedos."
Olá Marta,
ResponderEliminartens algum grande objectivo que gostasse de atingir ? - Temos sempre objectivos, talvez sejam eles que nos façam cá andar. Mas um, se o tiveres, aquele que te enchesse as medidas, por assim dizer.
Cumprimentos,
Luís Carvalho
Olá Luís!
EliminarTenho vários. Profissionais e pessoais. Por vezes até estão ligados.
Acima de tudo quero ter saúde para os concretizar. :-)
Bjinho
marta
Marta, comecei a seguir o teu blogue... de forma intermitente mas vou dando uma 'espreitadela'... Uma coisa é certa, o modo simples e claro como escreves é fascinante. Pelo menos para mim. Parabéns.
ResponderEliminarps: num site micro, super-micro, mesmo minúsculo, disponibilizei um link para o teu blogue. Caso não concordes ou não o permitas, pf, dá-me essa indicação (via facebook ou cardosof603@gmail.com)
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