Na realidade, os últimos 2 anos têm sido muito isto. Arriscar. Sair do "meu normal". Ir. Sem medo. Quero, vou atrás. Nunca o fiz? Sem problema, faço agora.
As coisas (que podem ser projetos ou pessoas) aparecem-me à frente, fico curiosa, conquistam-me e acabo por querer encaixá-las nos meus dias.
Quando isto acontece, pergunto-me: consigo? E, se gosto mesmo, se quero mesmo, respondo: hey, claro que consigo!
Foi assim que a Nuvem Vitória entrou na minha vida.
Conheci o projeto através da minha amiga Fernanda Freitas. Fiquei curiosa, procurei saber mais, deixei-me conquistar pelas informações que recolhi, quis encaixá-lo na minha vida. Na altura não foi possível. Passou quase um ano.
Mantive-me atenta ao terreno que ele ia conquistando. Deixei-o adormecer mas não o deixei morrer. E, finalmente, o projeto chegou-me quase à porta e a um dos locais mais especiais para mim: o Hospital Garcia de Orta, onde passei alguns dos piores momentos da minha vida, mas também dos melhores, com as pessoas que trouxe de lá comigo.
Naquele dia a Nuvem tinha acordado e nem precisei de pensar: peguei no telefone, liguei à Fernanda e, depois de 5 minutos de conversa, inscrevi-me.
Na altura ainda não sabia muito bem como é que ia conseguir encaixar tamanha responsabilidade na minha agenda semanal, já tão desafiante. Mas não quis saber, tinha que conseguir. E “tinha” porquê? Porque eu queria muito.
A formação foi este fim de semana. 100 pessoas. 100 homens e mulheres de exceção. “100 Nuvens”, como dizemos, cheias de vontade de fazer a diferença na vida de crianças que estão internadas em algumas das pediatrias de alguns dos nossos hospitais. Como? Levando com elas histórias para as ajudar a adormecer em paz.
Do outro lado, estariam pernas partidas, apendicites, mas também situações muito graves e tantas vezes até difíceis de aceitar que aconteçam a seres humanos tão pequenos, frágeis e inocentes. Miúdos marcados pela dor, pela frustração de não poderem ter uma vida normal, “como os colegas lá da escola”. Famílias que se viram e reviram para lidar e aceitar uma realidade injusta. Gente, como nós, que tentamos que mergulhem naqueles 5 ou 10 minutos que duram a história e consigam “esquecer” um bocadinho aquela dor. 5 ou 10 minutos de uma espécie de esperança que lhes sussurra ao ouvido aquele “calma, vai correr tudo bem” que tanta diferença pode fazer no meio daquela agonia.
E porque quis muito - e porque soube esperar - a partir de hoje, vou terminar algumas das minhas noites com um “Vitória, vitória, acabou-se a história.”
Minha gente, a partir de hoje sou, orgulhosamente, uma Nuvem Vitória.
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