Já me fazia falta
trabalhar cá fora, ao sol.
A rua está cheia
de passarada colorida, que não se cala. Gosto de os ouvir enquanto trabalho. Trazem-me
um misto de tranquilidade e inspiração que me ajuda a ter um dia produtivo. Tenho sempre a sensação que se esforçam ao máximo para cantar o melhor que sabem.
Aqui, onde moro,
quando o tempo aquece, os coelhos arriscam-se pelos caminhos onde andam os
humanos. E eu vejo-os ainda mais de perto.
O meu pinhal está cheio de vida. Daquela que se vê, que se sente e que
se cheira.
No meio disto
tudo, toca-me o telefone. “Estás na empresa, posso ir ter contigo à tua sala
para trocarmos umas ideias?” Respondo “podes vir ter comigo sim, mas à minha
varanda.” "Epá, que bom, quem me dera! Mas não posso, falamos pelo telefone,
sem problema". E falámos, resolvemos e pusemos tudo a andar.
Quando desligámos
fiquei a pensar no que o meu colega me tinha dito, da sorte. Eu sei que tenho.
Mas também sei como é que isto tudo começou.
Fez há poucos
dias 10 anos que tive alta do 1º internamento da septicémia. Causado por uma
escara lixada que infetou e que tentou dar um empurrão no meu mundo, com
vontade de o fazer cair. Abanão que me forçou a ajustar o tempo que passo
sentada na cadeira, decisão que tantas vezes me priva de estar mais tempo com
algumas pessoas que me fazem bem. Que me obrigou a abdicar de coisas que gosto.
Voltar ao modelo
antigo seria arriscar a saúde que, nem sei bem ainda como - e se calhar nunca
saberei - , não me fugiu na altura. Ou que não deixámos escapar, porque nunca
estive sozinha.
Por isso, se
tenho sorte? Tenho sim. A sorte de ter a vida inteirinha pela frente para olhar
para este pinhal, para estes pássaros. Para sentir estes cheiros e aproveitar cada
segundo que posso passar nesta varanda.
Porque não se
desperdiça uma segunda oportunidade. E eu não me esqueço disto. Nunca.
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