"O que é que tu
não podes fazer agora que estás de cadeira de rodas?"
Perguntaram-me
isto há uns dias, depois de uma palestra em que a ideia era partilhar a minha
história em 10 minutos.
Pensei uns
segundos e, porra, não conseguia lembrar-me de nada. Perante uma plateia
atenta, saiu-me a resposta “subir escadas.” E rematei com um “mas subo rampas
como ninguém”, seguido de uma gargalhada.
Na altura aquilo
pareceu-me parvo e pensei “que bela figurinha, Marta Canário”, mas a verdade
era aquela. E, mesmo que pense mais do que uns segundos, não me ocorre mais nada que
eu não possa fazer, por estar de cadeira.
Hoje, por exemplo.
Acordei, olhei para o meu quarto e pensei “hum...aqueles móveis ficavam melhor se os
trocasse de lugar um com o outro”. Até aqui tudo bem, queria mudar a disposição
daquilo, bastava-me um “Mãããe, anda cá ajudar-me!” E ela vinha.
Pois, mas hoje
não há mãe em casa, foi trabalhar.
Estava sozinha.
Deixei de mudar o
raio dos móveis? Não. Fiz por fases.
Primeiro, tirei tudo o que estava em cima
deles e que podia cair. Depois, arrastei um, devagar, empurrei-o com a força
que tenho de braços – e tenho muita -, tranquei-o contra os pedais da cadeira e dei
às rooodaaaaas. Dasse! Centímetro a centímetro, desloquei-o até à outra ponta do quarto. Caminho
aberto para o outro, fiz o mesmo: centímetro e centímetro, parando aqui e ali
para ganhar fôlego, arrasta, arrasta, só mais um bocadinho e...já está! Os móveis
ficaram exatamente como eu queria. Feito. Siga.
E a palavra é mesmo
esta: querer. Se não é de uma forma é de outra. Se não é mais fácil é mais
difícil. Se não é de seguida, é por etapas. Mas não fazer “por estar de cadeira
de rodas”?
Para além da questão das escadas, não me ocorre mais nada, sinceramente.
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