“Às 8h já estou no pc, tento fazer uma pausa às 13h, para almoço, regresso
30 minutos depois, e só volto a parar lá para as 19h.”
Perdi a conta às vezes em que disse isto. Não deixava de ser verdade mas, fazê-lo,
era uma espécie de necessidade de provar aos outros que trabalhava mais em casa
do que quando ia à empresa.
Passaram-se 12 anos, desde que, por questões de saúde tive que optar por
este método de trabalho. Foi numa altura de viragem da minha vida em que,
depois de ter estado quase a sair de pista com uma septicémia, decidi “passar-me”
para primeiro lugar, o que, naquele caso, implicou não passar quase 16 horas por
dia sentada na minha cadeira e começar a trabalhar de casa.
Pouco ou nada me fazia sair de frente do pc. Pouco ou nada me desfocava. Nem
o barulho do aspirador que vinha lá de fora, quando a Lucy limpava a sala para só
depois passar para o meu quarto.
E foi assim por muito tempo. Mas há pouco mais de 2 anos, a coisa mudou.
Não sei explicar porquê, mas passou a ser importante para mim poder
desligar o “piloto automático” e fazer pausas durante as horas de trabalho. Parar
para ler 2 páginas do meu livro. Parar para acabar de ver aquela série que
sigo. Para saltar para a cadeira enquanto aumento o som daquela música e dançar
que nem uma maluca. Ou parar apenas para ir à varanda e ficar ali por alguns
minutos. Os textos que ficaram por escrever ou rever podiam
esperar. O email de resposta que ficou a meio também. Que tivessem
calma, que eu já voltaria, sim?
E fi-lo. Sem a preocupação de estar a tirar tempo à empresa. Sem espaço para
sentimentos de culpa. Com a certeza de que aquilo me fazia bem, passei depois à
fase de o fazer sem qualquer pudor em dizê-lo em voz alta. Mais: sugerindo aos
outros que fizessem o mesmo. Seriam mais produtivos, mais focados no que é verdadeiramente
importante, mais conscientes das reais necessidades dos seus clientes.
Seriam, como eu passei a ser, tão, mas tão mais felizes.
E o curioso é que, depois de ter tomado esta consciência em casa, passei a
fazê-lo na empresa. Não tenho a minha varanda para ir nem páro para ler o meu
livro. Mas, sempre que posso, ponho o trabalho em pausa para circular pela empresa e dar
um “olá” aos que nem sempre vejo. Para os ouvir dizer que estão bem, para lhes dizer
que também estou. Para soltar a uma gargalhada sem me preocupar se ela ecoa nos
corredores.
Feita esta desaceleração, retomo a velocidade que me caracteriza, algumas vezes
quase irritante.
Hoje trabalhei de casa. A meio da manhã recebi um telefonema de uma
jornalista que conheço há mais de 10 anos. Falámos de trabalho, mas rapidamente
a conversa passou para o plano pessoal.
Também ela trabalha de casa, mas há pouco tempo. Ainda está na fase “non
stop”. Não pára para fazer uma máquina de roupa…quanto mais para ler umas
páginas do livro preferido. Sugeri que experimentasse fazê-lo. Acho que ela me ouviu.
A vida já me ensinou umas quantas coisas. E uma delas é que se é certo que o tempo não pára, mais certo é que sou eu que decido o que
faço com ele.
Amiga que inspiração! Esta é a parte importante, por-mo-nos em 1.o lugar e sem fugir à responsabilidade fazermos aquilo de que mais gostamos 😃 Bjs
ResponderEliminarAmiga que inspiração! Esta é a parte importante, por-mo-nos em 1.o lugar e sem fugir à responsabilidade fazermos aquilo de que mais gostamos 😃 Bjs
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