29 de Janeiro. Faz hoje anos uma das pessoas
mais importantes da minha vida. Do mundo. Pelo menos do meu. Alguém que não só cresceu
comigo, como o fez sempre ao meu lado. Eu diria até colada a mim. E, o mais giro
é que, depois de tantos anos, continua a ser assim.
Faz hoje anos a minha companheirona,
de todas as horas. Aquela que me atura as neuras, me pede conselhos, me acha
trombuda mas também justa. Que me critica mas que também me elogia. Que me defende
de tudo e de todos como se eu fosse uma criança indefesa.
Se fossemos gémeas não seríamos
tão parecidas.
Faz 39 anos e tem só mais 18 meses que
eu. Conta-me a nossa mãe que, no dia em que nasci, ainda no hospital e dentro
no berço, ela se sentou ao lado e não deixou ninguém aproximar-se. Conta também
que, numa noite em que os nossos pais recebiam amigos em casa, apareceu comigo
ao colo na sala, agarrando-me a custo por baixo dos braços, virada para a
frente. A mãe gelou, com medo que ela me largasse. “Patrícia, cuidado, devagarinho,
pára, não largues a mana…” E ela justifica-se: “ Tava a chorar e por isso fui
buscá-la…”
Quando vivíamos em Alvalade, tínhamos
um quintal só para nós. Ficava nas traseiras dos prédios. E era ali que brincávamos.
O que nos gostávamos mesmo era imaginar
que estávamos em plena Angra dos Reis e que aquelas eram as nossas mansões. É
certo que não passavam de dois tijolos, uma madeira a uni-los e, a enfeitar, azulejos
e vidros coloridos, vasos, tudo partido. Lixo, para os outros, luxo para nós. Nas
nossas cabeças, não havia nada mais chique. Lembro-me do medo de ser
apanhada pelas velhotas dos prédios ao lado quando saltávamos as vedações dos
quintais delas à procura de tralha para levar para ali. Tudo o que servisse
para aprimorar as nossas “casas de praia”.
À hora do lanche, uma de nós
subia até casa e preparava uma garrafa com “refresco de café”. E duas carcaças
com Tulicreme. Aliás, com muito Tulicreme. Carradas. E fazíamos um piquenique.
Fomos crescendo, e o cenário das
brincadeiras muda para a Charneca de Caparica, onde os nossos pais alugam uma
casa ao ano. Era para lá que íamos todos os fins de semana.
Ali já as brincadeiras eram
diferentes. Passávamos o dia a roubar fruta dos quintais dos vizinhos e a andar
de bicicleta com os nossos amigos. Eramos comportadas mas arrapazadas. Adorávamos
passar com as bicicletas por dentro das poças. Ficávamos imundas. E cheias de
nódoas negras.
Quando não andávamos nisto, estávamos
no café Ferro - cujo dono era…o Sr. Ferro – a jogar matraquilhos e snooker. Eu
não me safava mal mas a minha irmã, puxa, era profissional. Ganhava os jogos
todos aos rapazes.
Com o tempo as bicicletas
passaram a motas. Mas não nossas, que os nossos pais nunca nos deixaram ter
uma. Mas íamos à pendura. Na altura só havia Zundapps e Famels. Só o Azeitona é
que tinha uma DT LC 50cc. Acho que era o Azeitona. Também havia a Sofia, a Ana,
a Raquel, o Tita, o Valente, o Tininho, o Guido, o Monhé, o Passinhas, o BX, o
Vitinho e o Pedro Gordo. Estes eram os “residentes”, os “locals”. Depois apareciam
uns que acabavam por não ficar muito tempo.
Todas as noites nos juntávamos no
fundo da nossa rua. E ali ficávamos até à hora que a nossa mãe estipulava. Nem
mais um minuto. Não falhávamos. Comprávamos manteiga e fiambre e contávamos os
minutos para a padaria fazer sair a primeira fornada de bolinhas. Eram de
babar. Ainda hoje lhes sinto o sabor.
Os anos foram passando e
começámos a ter ordem de soltura para ir até aos bares de praia à noite. Mas
sempre com horas marcadas para chegar a casa. Waikiki. Estava na berra. Vinha
gente de Lisboa de propósito para se divertir ali.
Depois vieram os namorados. E,
ui, fartámo-nos de namorar…
Depois, os 18 anos, as cartas de
condução e as saídas à noite para Lisboa. Os arrufinhos com os namorados. E as
zangas mais sérias.
Pelo meio destes anos todos as
aventuras foram imensas. Mas foi assim que passámos a nossa infância e a nossa
adolescência. Sempre juntas. Eu e a mana. As manas. E, tal como naquela altura, também agora, na idade adulta.
Hoje é o dia dela, mas também é o
meu porque somos só uma.
Parabéns mana. E agora é a minha
vez de te dizer o que me dizes tantas vezes: “Obrigada por seres minha irmã!”