Até eu tenho dias em que me apetece deixar tudo para trás. Pegar nas pessoas que mais gosto e sair daqui. Mas acredito que isto passe pela cabeça de tantos...Pelo menos algumas vezes na vida. E hoje mais do que nunca.
Não sei se é da falta de sol que não consegue furar as
nuvens e a chuva mas, nos últimos dias, era o que fazia. Pegava na trouxinha e
desaparecia. A gaita é que não tenho essa coragem. E depois – muito importante
- sinto que o meu país precisa mais de mim aqui que lá fora. Ou que os que
ficam precisam mais de mim aqui do que longe.
Mas aguentar não é para todos. Quando diariamente, nos
media, nos cafés, nos corredores, em todo o lado, o tema é sempre o mesmo. Crise,
crise, crise. Já não há boas notícias. E quando elas existem, não se espalham.
Porque não vendem. Incrivelmente por isso.
Desespero é olhar para o lado – e agora é mesmo isto,
olhar para o lado - e ver uma montanha gigante de gente a sofrer. Gente que de
repente deixou de ter dinheiro para pagar contas, para comer. Que teve que
emigrar e largar a família para trás. Deixar cá metade do seu coração. Para
muitos, a metade mais importante. Que, sempre que se despede, morre um bocadinho por dentro. E vá lá que ainda vai havendo quem têm a oportunidade de
emigrar. Porque outros há que nem isso podem fazer e que se limitam a viver na
miséria.
Nunca as instituições de solidariedade tiveram tantas pessoas a pedir
ajuda. Pessoas que antes tinham uma vida equilibrada. Não de luxo, mas
equilibrada. E que agora fazem parte dos chamados “novos-pobres”. Há uns anos
atrás havia os “novos-ricos”, hoje há os “novos-pobres”. Um número que dispara
todos os dias.
Depois ligamos as televisões, os jornais, e as notícias
desmotivam qualquer um. Governantes que não se entendem, que mentem. Que se digladiam
aos olhos de todos. Mais austeridade, mais cortes, mais pobreza, mais miséria. Mais
desemprego. E nada indica que a coisa melhores nos próximos tempos. Como consequência,
o desespero e o aumento daqueles que perdem a cabeça e que, pensando não ter
saída, decidem parar de sofrer e acabam com as suas vidas. Muitas vezes também com
as dos outros.
E algo que tanto me angustia: até o número dos divórcios diminui
pelas piores razões... Com esta p _ _ _ desta crise, as pessoas desistem até da
felicidade. Preferem aguentar um casamento de fachada, um amor que já deixou de
ser, simplesmente porque dependem do outro, porque sozinhas não conseguem fazer
face às despesas. Desistir de ser feliz devia ser proibido.
Todo este cenário arrasta consigo também o aumento dos
números da violência doméstica que, desde o início do ano, já ceifou dezenas de
vidas. E, atenção, passaram-se apenas três meses.
E o mundo vai-se degradando.
Como uma vez disse o grande
escrito italiano, Cesare Pavese, “só uma doença nos revela as profundezas
funcionais do nosso corpo. Do mesmo modo, pressentimos as do espírito quando
estamos em crise.”
E o nosso espírito, a nossa alma
sente-se tentada a desistir. E quando isso acontece, é o fim.
Infelizmente não tenho uma
solução...No limite, tenho um conselho. Um pedido.
A história de Portugal é a prova
de que os Portugueses são um povo lutador. Destemido. Que, como mais ninguém, há
centenas de anos atrás se enfiou em caravelas toscas e enfrentou mares
desconhecidos. Descobriu o mundo. Literalmente.
Munamo-nos então da coragem de
Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães, Gil
Eanes e Diogo Cão, e agarremos o touro pelos cornos.
Lembrem-se: Portugal e os
Portugueses nunca desistem. E eu acredito mesmo nisto. Por favor, por vocês, por todos nós, acreditem
também.