Todos nós temos um lado B. É
normalmente aquele lado que nem sempre conseguimos “vestir” no nosso dia-a-dia,
pelo menos com a frequência que gostaríamos.
O meu lado B tem sido
dedicado a partilhar algumas das minhas experiências com as outras pessoas.
Seja através deste blogue, seja através de palestras que já dei sobre a minha
história e como seguir em frente. Tantas vezes a tentar mostrar que o mundo não
está preparado para receber pessoas que, como eu, se encontram em situação de
mobilidade reduzida. Noutras, simplesmente pondo a boca no trombone.
Hoje falo-vos disto mesmo: mobilidade reduzida.
Mas, antes de continuar, uma
nota, para que fique claro como água: uma pessoa com mobilidade reduzida não é apenas
uma pessoa com uma deficiência. Mobilidade reduzida é também, a amiga grávida
ou a prima que passeia o carrinho de um bebé. É o tio que se espatifou pelas escadas
abaixo, partiu numa perna e teve que ser operado. É o irmão que torceu o raça do
tornozelo e que vai ter que andar de muletas 3 semanas. Ou o avô que está velhinho e
já não consegue mexer-se tão bem. No limite, a D. Joana, a vizinha do 2º
esquerdo, que encravou uma unha e não pode pôr o pé no chão nos próximos dias.
Mobilidade reduzida é tudo, desde
que haja dificuldade em andar, em mover-se de forma normal. Seja temporária ou
permanentemente.
Há alguns anos, quando se falava
em oportunidades de negócio cujo público-alvo fossem pessoas com mobilidade
reduzida, usava-se a expressão “nicho”. Afinal, as estatísticas apontavam – e
ainda apontam - para que cerca de 10% da população portuguesa tivesse a sua
mobilidade condicionada. Conclusão: ter um negócio que pudesse ter impacto num
milhão de pessoas seria, no mínimo, um bom negócio.
Tudo muito bem, mas este não é o raciocínio
certo. Não estamos a ver o problema de forma inteligente. Porque, pelo menos
uma vez na vida, a probabilidade de qualquer pessoa passar por um episódio de
mobilidade reduzida, é gigante. Somos 10 milhões de portugueses...
É, por isso, fundamental que
todos os locais estejam/sejam preparados para receber de forma digna quem se
encontra, desde sempre ou não, impedido de se deslocar de forma independente.
Porque, como expliquei acima, essa pessoa pode ser, simplesmente…qualquer
pessoa.
São muito poucos, é certo, mas
ainda há bons exemplos de empresas que lidam bem com esta questão. O MyWay da
ANA, que presta um serviço personalizado de assistência a passageiros com
mobilidade reduzida que se desloquem num estado membro da União Europeia, é um deles.
Imaginem-se com uma importante viagem de trabalho marcada. Galo: fazem uma
rotura de ligamentos na futebolada semanal com os amigos. Deixam de ir? Com
esta ajuda, talvez não. Bom para vocês que não falham a reunião com o cliente,
bom para a companhia aérea que não perdeu um cliente.
E nem
sempre são necessários grandes investimentos. Realisticamente, talvez não dê para
adaptar todos os espaços. Mas, se houver abertura, se houver vontade de fazer
bem feito, tanto no sector público como do privado, muito poderá melhorar.
E o
mundo passará a ser um sítio, verdadeiramente, mais justo. Porque será para
todos.