23 de abril de 2015

Never forget. To live.

Já me fazia falta trabalhar cá fora, ao sol.

A rua está cheia de passarada colorida, que não se cala. Gosto de os ouvir enquanto trabalho. Trazem-me um misto de tranquilidade e inspiração que me ajuda a ter um dia produtivo. Tenho sempre a sensação que se esforçam ao máximo para cantar o melhor que sabem.

Aqui, onde moro, quando o tempo aquece, os coelhos arriscam-se pelos caminhos onde andam os humanos. E eu vejo-os ainda mais de perto. 

O meu pinhal está cheio de vida. Daquela que se vê, que se sente e que se cheira.


No meio disto tudo, toca-me o telefone. “Estás na empresa, posso ir ter contigo à tua sala para trocarmos umas ideias?” Respondo “podes vir ter comigo sim, mas à minha varanda.” "Epá, que bom, quem me dera! Mas não posso, falamos pelo telefone, sem problema". E falámos, resolvemos e pusemos tudo a andar.

Quando desligámos fiquei a pensar no que o meu colega me tinha dito, da sorte. Eu sei que tenho. Mas também sei como é que isto tudo começou.

Fez há poucos dias 10 anos que tive alta do 1º internamento da septicémia. Causado por uma escara lixada que infetou e que tentou dar um empurrão no meu mundo, com vontade de o fazer cair. Abanão que me forçou a ajustar o tempo que passo sentada na cadeira, decisão que tantas vezes me priva de estar mais tempo com algumas pessoas que me fazem bem. Que me obrigou a abdicar de coisas que gosto.

Voltar ao modelo antigo seria arriscar a saúde que, nem sei bem ainda como - e se calhar nunca saberei - , não me fugiu na altura. Ou que não deixámos escapar, porque nunca estive sozinha.

Por isso, se tenho sorte? Tenho sim. A sorte de ter a vida inteirinha pela frente para olhar para este pinhal, para estes pássaros. Para sentir estes cheiros e aproveitar cada segundo que posso passar nesta varanda.

Porque não se desperdiça uma segunda oportunidade. E eu não me esqueço disto. Nunca.