3 de junho de 2015

Begin with the end in mind

Conhecemo-nos um pouco antes de eu entrar para a Novabase. Ainda estava a estudar. Devia ter uns 20 anos.

Era fim de semana e eu tinha ido com a minha irmã assistir a uma das muitas convenções de fitness que ela frequentava.

Nessa altura, como hoje, gostava daquele movimento. Da música alta. De dançar.

Já estava de cadeira de rodas mas isso não impedia o meu corpo de vibrar com toda aquela adrenalina. Não podia participar, mas deliciava-me a ver. Aliás, como ainda hoje.

Não sabemos quem nos apresentou. Alguém foi. Falámos um bocado. Eu devo ter falado muito, porque falo sempre muito.

A convenção acabou, despedimo-nos e nem pensámos se a vida nos voltaria a colocar no mesmo caminho. “Adeus, até um dia destes, quando houver nova convenção apareço!”

Anos mais tarde, com 23 anos, voltámo-nos a cruzar. Desta vez, no mundo do trabalho. Depois de uma entrevista, fui contratada para fazer a ponte entre a empresa onde ele trabalhava e os media, agora que se avizinhava uma entrada em bolsa e era necessário ganhar alguma visibilidade-extra. 

Cruzámo-nos montanhas de vezes no corredor ao longo dos anos e era engraçado ter por ali alguém que me conhecia fora daquele ambiente. Que conhecia a minha irmã e alguns dos meus amigos. Alguém mais “familiar” que os outros. Trabalhámos juntos umas vezes mas a empresa foi crescendo e fomo-nos perdendo de vista.

No fim do ano passado a minha equipa passou para o andar dele e voltámo-nos a ver com mais frequência. Sempre que nos cruzamos dizemos umas graçolas um ao outro, e seguimos.

Ontem reencontrámo-nos, com mais tempo, na copa. Ele encostou-se ao balcão a comer uma gelatina, eu tirei um café.

Conversámos sobre o dia a dia e revivemos aquele em que, há mais de 15 anos, nos conhecemos. E o Carlos - é o nome dele - relembrou-me a nossa conversa. Do conteúdo da nossa conversa. Que já me tinha esquecido.

Eu andava no último ano da faculdade e estava cheia de planos, que partilhei com ele. “Notava-se que querias conquistar o mundo.” 

(E percebeu bem, porque queria.)

Apesar de não me ter demonstrado, o Carlos tinha ficado com medo que eu não conseguisse. “Vi-te cheia de vontade e com a certeza absoluta de que ias chegar longe. Mas confesso-te que achei que, tendo em conta a sociedade em que vivemos, cheia de preconceitos, ia ser difícil.”

Engraçado, pensei, essa hipótese nem me passava pela cabeça. Se eu queria, eu ia conseguir. Ponto final. Não havia outro desfecho possível.

Olhei para o Carlos que me disse “vendo onde chegaste, não sabes como eu fico feliz por me ter enganado…”

E ele nem sabe que isto é só o começo. Ou se calhar sabe. Agora já sabe.