29 de janeiro de 2013

Quem é pequenina hoje, quem é?


29 de Janeiro. Faz hoje anos uma das pessoas mais importantes da minha vida. Do mundo. Pelo menos do meu. Alguém que não só cresceu comigo, como o fez sempre ao meu lado. Eu diria até colada a mim. E, o mais giro é que, depois de tantos anos, continua a ser assim.
Faz hoje anos a minha companheirona, de todas as horas. Aquela que me atura as neuras, me pede conselhos, me acha trombuda mas também justa. Que me critica mas que também me elogia. Que me defende de tudo e de todos como se eu fosse uma criança indefesa.
Se fossemos gémeas não seríamos tão parecidas.
Faz 39 anos e tem só mais 18 meses que eu. Conta-me a nossa mãe que, no dia em que nasci, ainda no hospital e dentro no berço, ela se sentou ao lado e não deixou ninguém aproximar-se. Conta também que, numa noite em que os nossos pais recebiam amigos em casa, apareceu comigo ao colo na sala, agarrando-me a custo por baixo dos braços, virada para a frente. A mãe gelou, com medo que ela me largasse. “Patrícia, cuidado, devagarinho, pára, não largues a mana…” E ela justifica-se: “ Tava a chorar e por isso fui buscá-la…”
Quando vivíamos em Alvalade, tínhamos um quintal só para nós. Ficava nas traseiras dos prédios. E era ali que brincávamos.
O que nos gostávamos mesmo era imaginar que estávamos em plena Angra dos Reis e que aquelas eram as nossas mansões. É certo que não passavam de dois tijolos, uma madeira a uni-los e, a enfeitar, azulejos e vidros coloridos, vasos, tudo partido. Lixo, para os outros, luxo para nós. Nas nossas cabeças, não havia nada mais chique. Lembro-me do medo de ser apanhada pelas velhotas dos prédios ao lado quando saltávamos as vedações dos quintais delas à procura de tralha para levar para ali. Tudo o que servisse para aprimorar as nossas “casas de praia”.
À hora do lanche, uma de nós subia até casa e preparava uma garrafa com “refresco de café”. E duas carcaças com Tulicreme. Aliás, com muito Tulicreme. Carradas. E fazíamos um piquenique.
Fomos crescendo, e o cenário das brincadeiras muda para a Charneca de Caparica, onde os nossos pais alugam uma casa ao ano. Era para lá que íamos todos os fins de semana.
Ali já as brincadeiras eram diferentes. Passávamos o dia a roubar fruta dos quintais dos vizinhos e a andar de bicicleta com os nossos amigos. Eramos comportadas mas arrapazadas. Adorávamos passar com as bicicletas por dentro das poças. Ficávamos imundas. E cheias de nódoas negras.
Quando não andávamos nisto, estávamos no café Ferro - cujo dono era…o Sr. Ferro – a jogar matraquilhos e snooker. Eu não me safava mal mas a minha irmã, puxa, era profissional. Ganhava os jogos todos aos rapazes.
Com o tempo as bicicletas passaram a motas. Mas não nossas, que os nossos pais nunca nos deixaram ter uma. Mas íamos à pendura. Na altura só havia Zundapps e Famels. Só o Azeitona é que tinha uma DT LC 50cc. Acho que era o Azeitona. Também havia a Sofia, a Ana, a Raquel, o Tita, o Valente, o Tininho, o Guido, o Monhé, o Passinhas, o BX, o Vitinho e o Pedro Gordo. Estes eram os “residentes”, os “locals”. Depois apareciam uns que acabavam por não ficar muito tempo.
Todas as noites nos juntávamos no fundo da nossa rua. E ali ficávamos até à hora que a nossa mãe estipulava. Nem mais um minuto. Não falhávamos. Comprávamos manteiga e fiambre e contávamos os minutos para a padaria fazer sair a primeira fornada de bolinhas. Eram de babar. Ainda hoje lhes sinto o sabor.
Os anos foram passando e começámos a ter ordem de soltura para ir até aos bares de praia à noite. Mas sempre com horas marcadas para chegar a casa. Waikiki. Estava na berra. Vinha gente de Lisboa de propósito para se divertir ali.
Depois vieram os namorados. E, ui, fartámo-nos de namorar…
Depois, os 18 anos, as cartas de condução e as saídas à noite para Lisboa. Os arrufinhos com os namorados. E as zangas mais sérias.
Pelo meio destes anos todos as aventuras foram imensas. Mas foi assim que passámos a nossa infância e a nossa adolescência. Sempre juntas. Eu e a mana. As manas. E, tal como naquela altura, também agora, na idade adulta.
Hoje é o dia dela, mas também é o meu porque somos só uma.

Parabéns mana. E agora é a minha vez de te dizer o que me dizes tantas vezes: “Obrigada por seres minha irmã!”

2 comentários:

  1. Que bom ter uma mana para partilhar alegrias e desventuras. parabéns à Pat.
    Infelizmente não sei o que isso é por isso tive sempre a certeza de que nunca teria um só filho.bjo

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  2. Estou a adorar o teu blog Marta. Das coisas que tu te lembras....bons momentos que passámos na Charneca. Também ainda sinto o cheiro e sabor do pão quente. Era uma maravilha! Que bom recordar esses tempos :-D

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