17 de fevereiro de 2013

Chorar lava a alma.

Sou uma chorona, confesso. Mas dizem que chorar é bom.

Quem olha para mim pensa que não, que sou uma fortalhuda. “Ah, já passou por tanto que ganhou calo”. Ganhei, é verdade, mas, lamento desapontar, continuo uma chorona.

Pensando bem, talvez a culpa das pessoas pensarem assim até seja culpa minha. Durante muito tempo, sempre contei os zigue-zagues da minha vida pela positiva, sem grandes dramas. Sei que foram, claro, mas não as sabia, nem sei, contar de outra forma. E isso rotulou-me. Hoje, se me vou abaixo, estranham. Assustam-se. Dizem “não…a Marta…não pode ser…!”

A verdade é que, mesmo contando as minhas histórias desta forma, tal não lhes retira a crueldade com que rasgaram a minha vida. Rasgaram, mas cozi-a com as melhores agulhas do mundo: o amor das mãos de quem sempre acreditou que a vida podia e ia continuar. A minha mãe, a minha irmã, os meus amigos. E, continuou, é um facto. Afinal, estou cá, não estou?

 
É certo que a vida me endureceu. Mas não é linear que, porque a vida me fez passar por situações complexas, o que para os outros é um problema, deixou de o ser para mim. Talvez haja apenas uma diferença: perco pouco tempo a chorar e a bater com a cabeça nas paredes. Porque me obrigo a parar, a analisar friamente a situação, a procurar encontrar caminhos e a seguir aquele que acho que me vai tirar mais rapidamente daquela situação. Funciona sempre? Não. Galo…Aí repito o processo, e repito, e repito, até resolver a situação. Pode demorar um bocadinho. Mas não “penduro as chuteiras”. Nunca. 

Depois há um truque que, eu diria, é infalível: quando não se consegue encontrar estes caminhos sozinha, pede-se ajuda a quem achamos que pode ajudar. No meu caso, nem é preciso porque, quem me conhece bem, apanha a coisa no ar e põe-se em campo antes de eu abrir a boca para me queixar.
 
Mas a vida surpreende-nos sempre. E se alguma coisa aprendi com a minha foi que, mesmo das situações mais difíceis, quase sempre podemos retirar alguma coisa de positivo, algum ensinamento.

Às vezes penso: quem seria eu hoje se aos 15 anos não tivesse ficado de cadeira de rodas? Quem seria eu hoje se aos 29 não tivesse estado a patinar 6 meses com uma infecção que decidiu dominar o meu corpo? A mesma Marta que todos conhecem? Duvido. E duvido muito.

Um dia vi um filme curioso, com o James Belushi (Larry) e o Michael Caine (Mike), que me marcou. Chamava-se Mr. Destiny e contava a história de um jogador de basebol que falhava uma bola decisiva na equipa do liceu, e que atribui a esse momento o fracasso em que a sua vida se tinha tornado. A certa altura, ao fugir da polícia, Larry entra num bar onde conhece um barman, que não é mais que o seu anjo da guarda. E que lhe dá a oportunidade de experimentar viver a vida se não tivesse falhado aquela bola, naquele momento. Torna-se, assim, num homem rico, invejado. Mas também cheio de problemas e que perde quem, de facto, amava. No fim, vêem-se luzes fora do bar. E, quando tudo indicava que se seria a polícia, não passavam das luzes de um carro de reboque. Larry percebe que voltou à sua vida normal, aquela vida em que falhou a bola. Luta e volta a arranjar emprego, a endireitar a sua vida. Mas uma vida onde pode contar com quem o ama para o ajudar a reerguer-se.

Eu não tive oportunidade de ver “como seria se” mas, sinceramente, sinto que se não tivesse passado por nada disto, talvez não me orgulhasse tanto de mim como me orgulho. Desta Marta, com coisas boas e coisas más, mas que ultrapassou, está cá para contar a história e, por vezes, até dá alguma esperança a quem precisa dela.

 
Por outro lado, com estas rasteiras da vida, também aprendi a aceitar que não controlamos nada. Que o que tiver que acontecer, acontece. Se for mau, ou nos entregamos à coisa, ou a enfrentamos. Mas sem contemplações, sem medo. Sem nunca entrar na luta a pensar que a vamos perder. Entrar para ganhar.

Para terminar, só uma nota para aqueles que me acham uma fortalhuda que não chora. Estão longe de me conhecer bem. Basta porem-me à frente de uma criança, de um velho ou até de um cão felizes. Dêem-me um dia bom no trabalho, uma palavra de conforto num dia mais complicado. E o mais certo é a torneira pingar.

Não é assim todos os dias, calma, mas é sempre que sinto que preciso. Vergonha? Hoje em dia, nenhuma.

Afinal, “Quando se não chora, parece que as lágrimas nos caem todas cá dentro e queimam; e o padecimento é, então, de morte."
 
E, eu, caso não saibam, só estou a pensar em patinar lá para os...vá, 115!

10 comentários:

  1. Brutal! Como me identifico neste texto... Eu tb sou, assumidamente, uma chorona! Ou não? Afinal só choro por 2 motivos: por TUDO e por NADA!!!! lol Nunca mudes, Martinha! Gostamos de ti assim!!!!!!!! <3 U!

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  2. Com a verdade ajudas certamente muitos a parar de chorar. Outros a perceber quanto importante são a família, amigos, o nosso amor próprio e dos outros. E assim, podermos também sorrir num domingo chuvoso, cinzento mas que tudo tem para ser feliz!
    abraço ( e continua a rolar já que para patinar ainda vão faltar muitos textos...)

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  3. ADOREI o texto! Concordo em pleno! Podemos parecer fortes por vezes, e ainda bem... porque é por superarmos o pessimismo que nos rodeia! Mas há que chorar! Lava a alma e faz bem de vez em quando! Continua assim! Adorei este teu BLOG! Obrigada pela tuas LINDAS palavras!

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    1. Só sendo optimistas conseguimos superar a confusão que esta vida está! E sim, podemos e devemos chorar, sempre que nos apetecer!

      Obrigada por gostares do blog. Segue e partilha, para chegar a muita gente!
      Bjo
      marta

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  4. És forte!!! Tudo o que relatas neste texto em diversas circuntâncias estamos muito próximos...mas a FORÇA que vem ao de cima apenas surge em pessoas especiais, e certamente fazes parte delas!!!
    Obrigado pela tua transparência e pela boa onda que transmites aos outros!!! Continua sempre assim...

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    1. Não sei se sou especial mas tento fazer isso mesmo de que falas: passar uma boa onda!

      Obrigada e continua por aqui!

      bj
      marta

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