24 de fevereiro de 2013

“Em cada rosto, igualdade/ O povo é quem mais ordena.”

Antes de tudo, um esclarecimento. Com esta crónica, apenas constato o estado do meu País. Ou melhor, o mau estado do meu País. Porque ele merece que eu diga o que sinto. Até porque politica faz-me urticária.

Igualdade não tem havido. Nenhuma. No meu País. Sim, aquele que ganha prémios de melhor destino turístico em revistas estrangeiras. Aquele com gente única, clima de sonho, sitíos de cortar a respiração. Já para não falar do que por aqui se come, que conquista qualquer criatura que nos visita.

Mas o povo, esse, já nada ordena. O povo vota mas os Governos depois fazem o que querem e, acima de tudo, como querem.
A bem da verdade, o povo nunca tem grandes alternativas quando lhe dão a escolher. Afinal, tão bons são uns como os outros. A ambição desmedida, a ganância, a obsessão pelo poder. Hoje em dia, os valores pelos quais cada partido se rege, ficam-se apenas pelos livros. E já não nos corações e nas almas dos seus dirigentes. Já pouco lutam, de verdade, por eles.

Posso até aceitar que haja quem entre nesta vida com boas intenções. Mas não entendo que não saiam no momento exacto em que percebem como aquilo funciona.
Faz hoje 26 anos que o Zeca morreu. O Grândola Vila Morena, música bandeira, foi símbolo de uma revolução. Uma revolução que devolveu ao povo, quando ele, de facto, conseguia ordenar, a liberdade que não conhecia com a Ditadura.

É uma música que fala sobre a fraternindade. Fala sobre amor ao próximo. Valor que se foi perdendo com o tempo. Valor que o tempo, simplesmente, apagou.
Eram 00:20 minutos do dia 25 de Abril. 1974. O Grândola Vila Morena o sinal que a revolução ia avançar. Que o povo ia para a rua. Avançou, derrotou a Ditadura e ali nasceu a Democracia. Que quer dizer Governo ao povo. Governo em que o povo, de uma forma, directa ou indirecta, governa.

39 anos depois? Só tretas. O povo elege, escolhe, é verdade. Vai confiando que este ou aquele dará o seu melhor. Vai confiando que este ou aquele dará um rumo ao seu País. E depois? Depois acontece o mesmo de sempre. Enchem os bolsos, ajudam os amigos. E, os que realmente tentam mudar o sistema, ou se enrolam na teia e se deixam levar, ou acabam por desistir.

Facto: a vida das pessoas está cada vez pior. Facto: a vida das pessoas está cada vez mais longe de ser vida. Porque uma grande parte não vive. Limita-se a sobreviver.

Há mais fome, mais miséria. Que agora vem de onde antes não vinha. Hoje há vergonha de assumir que se passou a fazer parte daquele grupo de pessoas que não tem nada para comer no frigorífico. Que deixou de poder pagar um tecto para viver.

Grândola continua a ser uma vila morena. Pode até continuar a ser a terra da fraternidade. Mas já não é o povo quem, dentro dela, mais ordena.

Hoje voltou a cantar-se o Grândola Vila Morena. Virou moda. Mas hoje não há revoluções. Há pequenos grupos de pessoas que se juntam para se manifestarem. Alguns até com as intenções erradas. Usando os métodos errados. Mas, mesmo quando são muitas, continuam a conseguir fazer pouco. Porque a máquina é poderosa, finge-se de surda e o povo é demasiado sereno para voltar a revoltar-se com firmeza.

Mas as coisas tem vindo a aquecer. Por isso, hoje é assim. Mas eu pergunto: será para sempre assim?
Começo, finalmente, a ter esperança que não. E que, um dia, brevemente, isto mude.

                                   

2 comentários:

  1. Para mudar o rumo das coisas temos que sair da Apatia em que nos encontramos. Cantar em uníssono para que consigam ouvir-nos e desta vez não basta que o façamos em Terras Lusas temos que fazê-lo em conjunto com todos os países da Europa,aquela a pertencemos mas com a qual parece que ninguém se identifica e onde não se comunga os mesmos valores. Desta vez a Revolução têm que galgar fronteiras.

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  2. Olá Marta como eu por vezes digo, há quem acredite que a crise que vivemos é financeira ou económica, para mim a crise é apenas uma crise de valores, o tempo passou e tudo perdeu a cor, ficou tudo acinzentado. É tudo do mesmo faz-se sempre o mesmo e os valores e as ideias essas perdem a força que tinham.

    Enfim acredito que precisamos de refundar tudo. Ir mais além e construir novas formas de um povo ser povo, e que aquilo em o povo acredita tenha mesmo valor. Acredito que precisamos mais disto que tu fazes que falemos para trazer à tona aquilo que de maior valor exista em nós, para que no nosso tempo e no tempo que se segue haja espaço e abertura para mudar e construir esta nova sociedade.

    Pegando no que a Ana V. diz isto é algo que não fará sentido apenas em Portugal é algo que terá de ganhar impeto e força Europeia ou global, é hora de repensar a forma como nos relacionamos em sociedade e na forma como aceitamos ser governados.

    Abraço

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