27 de fevereiro de 2013

Liberdade de voar



Sempre sonhei experimentar a liberdade de voar. A liberdade dos pássaros.

Por isso, se hoje, agora, me fosse concedido um desejo, como do génio da lâmpada, era isso que lhe pedia. Que me fizesse voar. Voar sem parar. Voar. Apenas voar.

E que, em vez de me dar asas, chamasse as gaivotas e os corvos que vivem na minha rua para darem uma ajuda.

Era simples. Davam as asas uns aos outros, faziam uma espécie de cadeirinha de penas, e eu sentava-me nela. E íamos. Ou melhor, e voávamos.

Com as gaivotas podia fazer razias ao mar, tocar-lhe com as pontas das patas. E picar o peixe distraído que andasse à superfície.

Já os corvos podiam levar-me até ao cimo dos pinheiros mais altos. E fazer como eles costumam fazer, saltar de um para o outro. Ou cantar em cima das chaminés dos prédios lá da rua. Para acordar a vizinhança.

Depois, já todos juntos, subíamos a pique até uma nuvem. Nunca vi uma nuvem por dentro. Gostava de saber como é. De saber se a sentimos na pele quando passamos por ela. De saber se tem cheiro.

De seguida, e depois de subirmos a pique, fazíamos o contrário, descíamos a pique. E rasávamos as traineiras dos pescadores, daqueles que corajosamente se aventuram no mar, cheias de peixe. E riamo-nos com os seus protestos sempre que conseguíamos roubar-lhes um ou outro peixe.


Para terminar o dia, podíamos pousar na copa do pinheiro. Mas do mais alto. Devagarinho, mas muito devagarinho. Aí, quase de forma delicada, as gaivotas, com a ajuda dos corvos, sentavam-me suavemente e de novo, na minha cadeira, na minha varanda.

No fim, acenava-lhes num gesto de agradecimento. Por me terem ajudado a realizar um sonho. Voar e sentir, mesmo que apenas por um dia, a sua liberdade.

Depois as gaivotas regressavam ao mar, os corvos ao pinhal e às suas chaminés. E acabava assim.

Mas todos os dias nos víamos. E tenho a certeza de que me bastaria fazer-lhes um sinal, um pequenino sinal, e eles voltavam a unir as asas, a fazer a cadeirinha de penas e a levar-me para mais uma aventura. 

Até lá, basta-me fechar os olhos e pensar: sou uma sortuda. Já voei. Já senti a liberdade de um pássaro. E aí sorrio.

Um sonho? Talvez, mas isso é bom, porque como dizia o poeta, nós somos do tamanho dos nossos sonhos. E os meus são sempre assim, enormes.

4 comentários:

  1. Vivemos para concretizar os nossos sonhos.
    E essa liberdade de escolha, também depende de nós.
    Acredito que quem vive com pensamentos enormes, um dia vai mesmo voar...

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  2. Há sonhos dificeis de concretizar mas sim, devemos sempre tentar fazê-lo.
    E tb acredito que se tentarmos muito, acabamos quase sempre por conseguir!

    Bons sonhos!
    marta

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  3. Lindo e poético, este teu texto daria uma boa música...

    Abraço

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  4. Já fiz alguns voos mas quero fazer muitos mais. Deixar de voar é deixar de viver.

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