Antes eramos só as três. Durante anos foi assim. Sempre.
Três amigas mas uma delas, acima de tudo, mãe. Para não confundir
as coisas. E outras tantas vezes o árbitro!
Eu, a mana e a mãe. Sempre.
Quando uma tinha um problema, tínhamos as três. Quando
uma não tinha problemas, as outras também não tinham.
Com a mana – sim, eu chamo-a assim mas ela nunca me chamou
(coisas de irmã mais nova) – passei todos os dias da minha infância. Tínhamos os
mesmos amigos. Frequentávamos os mesmos locais. Só não tínhamos os mesmos
namorados mas, de preferência, ajudava que fossem os melhores amigos. E quase
sempre foram.
A roupa, a mesma. A voz, a mesma. De tal maneira que um
dia fui eu que terminei um namoro dela, pelo telefone, porque, claro, a mim não
me ia custar nada.
Hoje a roupa dela já não me cabe, mas a voz continua
igual. E as expressões. E as gargalhadas. E o que temos de diferente,
complementa-nos.
Fomos crescendo e cada uma seguiu o seu caminho em termos
de estudos. Ela totalmente virada para o desporto. Eu totalmente virada de
costas para o mesmo.
Acho que das únicas vezes que decidi mexer-me um
bocadinho mais foi quando resolvi dedicar-me à dança jazz, onde ia depois das
aulas terminarem. Mas antes passava pela Sul América, na Avenida de Roma, e
pedia ao meu querido Aristides uma brisa. A maior, de preferência. Depois
passava por casa, levava o cão à rua, arranjava uma carcaça com geleia (ou de
geleia com pão) e, dança jazz com ela. Eu até achava que tinha jeito. Mas
duvido que o professor tivesse a mesma opinião porque me punha sempre na fila
de trás. Palhaço.
Passadas duas ou três aulas, deixei de aparecer, mas mantive-me
fiel às brisas e às carcaças com geleia. Ah, e segui Humanidades/Jornalismo.
Percebi que no Desporto não me safava. Suar incomodava-me.
Mas fora isto, fora o percurso profissional, sempre
juntas.
Aos 15 anos tenho o acidente em casa que me deixa de
cadeira de rodas. Quem chega na hora H e me tira de dentro da casa de banho? A
mana. Sim, salvou-me a vida. Ainda hoje brincamos com isto. Mas é a mais pura
das verdades. Se não fosse aquela miúda de 16 anos e o seu sangue frio, eu hoje
não estava aqui a partilhar alguns dos meus momentos convosco.
Se ainda havia dúvidas que eramos uma, depois deste dia, elas
acabaram. Onde estava uma estava outra. Para onde ia uma, ia a outra. E sempre
juntas. Muitas das vezes, de táxi. Com os 1000 escudos que a mãe nos dava para
sair.
Foi sempre assim. Quando eramos pequenas, na adolescência.
E hoje, como adultas.
Agora a mãe. Sempre amiga mas, acima de tudo, mãe. Vá, um
bocadinho de tudo mas sem misturar as coisas. O chamado “respeitinho é bonito e
eu gosto”. Mas uma mãe que confiava a 100% e que metia as mãos no fogo pelas
filhas. E tantas vezes contra tudo e contra todos. Mas nunca se queimou.
Em 29 anos, e por duas vezes, foge-lhes o chão debaixo dos
pés. Primeiro, com o episódio da paraplegia, depois o da septicemia. As duas a
aguentarem as pontas. Sem saber se iam ter força para as agarrar até ao fim, ou
se acabariam por ter que as largar. Mas aguentaram.
Perto daquilo que viria a ser a segunda tempestade, surge
o quarto elemento. A Carlota.
Um bocadinho de pessoa que veio mudar as nossas vidas. Para
melhor. Um anjo que hoje tenho a certeza que também veio para ajudar a ultrapassar
aqueles momentos que tanto nos assustaram mas que também ainda mais nos uniram.
E para nos compensar com outros maravilhosos.
Lembro-me de pensar que, se houvesse uma máquina onde se
programasse de um lado o género de bebé que queríamos que saísse do outro lado,
era exactamente uma daquelas que eu queria que me calhasse.
Lembro-me da minha mãe dizer que tinha sonhado com uma
miúda linda, de cabelos compridos aos caracóis e loira. Foi o que nos saiu. Se
bem que tivemos que penar uns anos até ter cabelo de jeito para por um gancho!Hoje é a melhor sobrinha, a melhor neta, a melhor filha.
Como ela diz “chanfrada”. Mas, quem bem a conhece, “com todos os valores no sítio”. Uma obra de arte e a sobrinha mais gira do mundo. Diz a tia babada.
Hoje somos quatro. Quatro sortudas porque, saia quem saia, entre quem entre, estas quatro nunca saem de cena. Refilam, refilam. Mas, de cena, não saem. Sim, e coitadinho de quem entra...!
E no palco da vida, cada vez mais vazio de gente que sente de verdade, que se quer bem de verdade, com o coração, ter tido sempre por perto as pessoas mais importantes da minha vida, é razão para agradecer todos os dias.
E quem não o faz, eu própria falho às vezes, um dia arrepende-se.
Farei tudo para que isso não me aconteça. Um conselho? Façam o mesmo. Porque um dia, quando olharem para trás, podem já ter perdido a oportunidade de o fazer. Ou, pelo menos, de terem lá as pessoas que queriam que vos ouvissem.
Olá Marta,
ResponderEliminarprovavelmente já não te recordas de mim, mas eu sim. Vi o teu blog pela Manuela ( amiga que temos em comum). Adorei ler e já me tornei seguidora.
És uma força da natureza e que sejas o exemplo de amor, coragem, determinação, alegria e em como viver vale a pena, bem como dar graças por cada dia, bom , menos bom ou mau que passámos, pois ele faz parte da vida e é sinal que tivemos o privilégio de o viver.
Um beijinho grande e continua a ser a Mulher com garra, divertida que tive o prazer de conhecer, quando passei pela Novabase de 1999 a 2004.
É bom ter um Clã assim.
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