8 de outubro de 2013

Dar o melhor de nós

“Queremos falar com mulheres determinadas, sob vários pontos de vista. No teu caso, que nos contes como é que se dá a volta por cima. Aceitas, ou já deste o suficiente para este peditório?”.
 
Foi mais ou menos esta a mensagem que a Rita, colega dos tempos de faculdade e agora responsável pela redacção de uma das melhores revistas femininas portuguesas, me deixou no privado do Facebook.
 
Quando vi aquilo respirei fundo e pensei “hum…será mais do mesmo?". Mas a abordagem pareceu-me diferente. Enxuta. Desempoeirada. Vinha, aliás, de alguém que tinha acompanhado de perto os primeiros anos do acidente que me tinha deixado de cadeira de rodas. Sabia, por isso, como tinha sido a minha reacção.
 
Liguei-lhe. Foi bom voltar a ouvir a voz dela. Fez-me lembrar os tempos de faculdade. A vida fez-nos seguir caminhos diferentes mas o Facebook voltou a juntar-nos há uns anos. E, graças a ele, continuávamos, de alguma forma, perto uma da outra.
 
Expliquei que teria muito gosto em dar a entrevista mas que tinha dois pedidos: para não nos deixarmos enrolar pelo discurso trágico-lamechas e para me ajudar a promover o meu blog. O que ia, aliás, ao encontro do tema que queriam falar comigo porque este blog também fala sobre determinação. Minha e de outros, mas determinação
 
Para a Rita, nem passou por aceitar. Porque, também para ela, era claro que a lamechice não tinha espaço no texto e que o blog se encaixava na perfeição na nossa conversa.
 
Destacou uma jornalista que eu conhecia apenas pelo nome. A Sónia. Tenho tido sorte com as Sónias. Sempre que me entrevistam, divirto-me a valer. E acho que elas também. A gaita é que perdemos a noção do tempo e o trabalho atropela-se todo. Mas vale sempre tanto a pena…
 
Esta Sónia começou logo bem: “posso tratar-te por tu?”. Respondi que sim “bolas, temos as duas quase a mesma idade…!”. É sempre bom falar com alguém da nossa geração.
 
Não nos perdemos a falar dos factos. São públicos, ela já os conhecia. Falámos da vida. Do que é viver. De como se ultrapassam os obstáculos. De como ultrapassarmos obstáculos pode ter impacto na vida de tanta gente. E de qual o meu papel no meio deste filme.
 
 
Foi mais de uma hora nisto. Uma hora em que ora interrompia eu, ora interrompia a Sónia com um “claro, tens razão, tem mesmo que ser assim, concordo em pleno, pá!”. Sintonia e cumplicidade. À primeira vista.



Expliquei que sentia que era fundamental, mais do que focar em mim, focar nas minhas experiências e em como elas me tinham mudado. E, mais do que me terem mudado a mim, como poderiam elas mudar/influenciar os outros. Pela positiva.

Falámos dos “bons” e dos “maus” que nos rodeiam. Falámos dos que querem e dos que não querem ser ajudados. Falámos de como eu posso ajudar. De como eu quero ajudar. Mas concordámos que todos valem a pena. Vá, quase todos!

Falámos da importância do efeito “pedrada no charco”. De fazer chegar a palavra longe. De conseguir mudar vidas com gestos simples como um sorriso na cara. Falámos de partilha. De que quando cada um oferece o melhor de si mesmo, o mundo avança um bocadinho. Sempre.

Falámos de viver bem. Que a nossa essência era a mesma essência dos outros. Mesmo daqueles que chamámos de “maus”. Concordámos que, no fundo, tudo o que eles precisavam era de um empurrãozinho para melhorarem e mudarem para a nossa equipa. Dos que querem bem aos outros.

Mas também falámos das dificuldades que esse caminho nos trazia, dos dissabores, do trabalhão! Da nossa – por vezes grande -  falta de vontade de ajudar quem não estava para aí virado. E do esforço que devíamos fazer para a ultrapassar.

Foi uma conversa gira. Em que eu senti que mudei um bocadinho da vida da Sónia, e que a Sónia pode estar segura que mudou um bocadinho da minha. Ganhámos, por isso, as duas.

Quando a nossa conversa chegar a mais pessoas, quando for publicada, vai com certeza mudar um bocadinho de quem a ler. Porque valeu a pena. E, se cada pessoa que a ler a passar a outra, terá valido ainda mais.
 
Vá, e não precisam de morrer de curiosidade para saber o resto! Basta comprarem a próxima Máxima! :-)

7 comentários:

  1. Vou estar muito atenta!! É a de novembro, certo?
    Mudar, é preciso! É preciso abanar mentalidades, egoísmos, mesquinhices! E palpita-me que esta entrevista vai ter em mim o mesmo efeito que teve a outra, a da outra Sónia: abanar-me!
    Beijinhos grandes!

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    1. Olá!!

      Sim, de Novembro!
      E espero sinceramente que gostes. Não só da minha mas de todos os testemunhos que eles vão publicar!
      Um bjo,
      marta

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  2. ola Marta Canario, eu sou a Helena trintona,conheci o blogue atraves da revista RD e despertou o meu interesse conhecer-te,pela situaçao identica em que me encontro,gostaria de partilhar os momentos menos bons bem como,voltar a sorrir. fico a aguardar a tua resposta. vivo no Montijo

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    1. Olá!
      Agarra-te às coisas boas que te restam, tenho a certeza de que tens! À família, aos amigos!
      O tempo vai ajudando no resto. Acredita.
      Um beijo,
      marta

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Viva,
    li o artigo que saiu nas Selecções Do Reader's Digest com o título: ' Otimismo à prova de tudo' assinado por Sónia Morais Santos. E tive curiosidade de conhecer o Blog e foi a primeira coisa que fiz ao ligar-me à net pela manhã. Irei acompanhá-lo a partir de agora.

    Cumprimentos,

    Luís Carvalho

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    1. Olá Luís,

      Fico contente que tenha gostado! E espero que fique por cá por muito tempo:)!

      Obrigada,
      marta

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