“Muita
gente não só lamenta o que não fez, como o que gostaria de ter feito diferente.
Os grandes arrependimentos não dizem respeito a conquistas, mas a experiências.
Todos os dias, abrimos mão de experiências que fazem sentido para a nossa vida,
por causa do trabalho. Abrimos mão de um café porque só temos cinco minutos e
então é melhor deixar para quando pudermos sair para jantar. Mas esse dia não
chega nunca… Portanto, se tem cinco minutos, aproveite.”
As palavras são de uma médica brasileira que acaba de editar um livro sobre a sua
experiência com doentes que enfrentam diagnósticos incuráveis. Li-as
recentemente numa conversa que teve com o DN, e caíram cá dentro que nem uma
bomba. “Porra, é isto”, foi mais ou menos assim.
Todos
os dias deixamos coisas por fazer. Uma mensagem por enviar. Um
telefonema por fazer. Um encontro que “fica para depois”. Um “gosto de ti”. Um “parabéns,
és fantástico”. Um “olá, tudo bem contigo?”. Um “até ia, mas não vai dar”.
Refugiamo-nos
na “falta de tempo” e no “digo/faço para a próxima”. Eu diria antes que é a
nossa inacreditável incapacidade de perceber o que é realmente importante, e
até medo de sair da nossa casca de sempre, do nosso quintal. No limite, de
viver experiências novas.
Somos
uma espécie de máquinas. Acordamos, vamos trabalhar sempre pelo caminho, ouvimos
sempre as mesmas músicas, almoçamos sempre com as mesmas pessoas, nos mesmos
sítios. No fim do dia, voltamos para casa, jantamos, lemos algumas
notícias nos mesmos jornais, deitamo-nos, no dia seguinte, voltamos a ligar o botão “rotina” e
entramos em modo “repeat”. E num mundo “repeat”.
Quando damos por isso, temos
mais 10 anos e não dissemos as palavras que devíamos ter dito, não demos os beijos que devíamos ter dado, não chorámos as lágrimas que devíamos ter chorado, não soltámos as gargalhadas que devíamos ter soltado, não tivemos as conversas que devíamos ter tido, não vivemos as experiências que devíamos ter vivido. É a tal “falta
de tempo” ou o “digo/faço para a próxima” a marcar golos e a ganhar pontos.
Quando chegámos aos 40, fizemos muita coisa errada, mas já voltámos a encarrilar. Fomos os
rookies da empresa, mas já somos respeitados profissionalmente. Vibrámos com
o contrato promessa compra e venda da nossa casa, mas já a temos quase paga. Sonhámos com filhos, mas já os temos praticamente criados. Vivemos
mergulhados em montanhas de dúvidas, mas já vivemos o suficiente para sabermos o
que queremos. Tivemos vários grupos de amigos, mas mantivemos um e onde
dificilmente deixamos entrar mais alguém.
E, depois, a gaita é que, aos 40, com o sucesso ou conforto que conseguimos, já não
nos apetece mudar porque dá trabalho. Afinal, tornou-se tudo tão seguro, tão “direitinho”
e controlado, que mudar para quê, não é? É, mas não devia ser.
No
meu caso em particular - e admito que haja quem pense de outra forma - os
40 trouxeram-me isto tudo, mas também me trouxeram a certeza de que sou finita, que há muito mais para além disto, e que devo aproveitar a 2ª metade da minha vida para a viver em pleno, e divertir-me muito a fazê-lo.
Se depender
de mim - e tal implica contrariar a minha também por vezes gigante incapacidade
e medo de sair da minha casca, do meu quintal e de viver coisas novas - não vai
ficar uma mensagem, um telefonema, um encontro, um “gosto de ti”, um “foste
fantástico” ou um “olá, tudo bem contigo?” para mais tarde.
Se depender de mim,
por muito que também eu tenha mil razões para ficar, os 40 ensinaram-me que já só preciso de uma para ir.
:):):):) excelente blog
ResponderEliminar