É que com a minha
sei como dar a volta. Se não sei, arranjo, invento. Distraio-a, troco-lhe as voltas.
Passo-lhe uma rasteira. Ou dou-lhe, simplesmente, um belo pontapé no cu.
Com a dos outros
não é assim. Com a dos outros fico muitas vezes sem saber o que dizer, sem
saber o que fazer, sem conseguir ajudar. Sinto-me impotente. Eu, que estou
habituada a saber sempre o que dizer. A controlar a dor. Mas, sim, a minha.
O que mais me
custa é quando são causas aparentemente perdidas. Cientificamente perdidas. Causas
onde o que nos resta é a esperança. Mas também o que é isto de nos "agarrarmos à
esperança" quando estamos a falar de casos sem ela? Ou mesmo de pessoas que, por natureza, não
a têm?
“Tens que ter
calma”. “A vida é mesmo assim”. “Temos que aprender a aceitar”. “A ciência
avança muito rapidamente”. “Pensa que algo vai acontecer de bom”. “És forte e vais
superar”. "Luta, luta, luta". “Tem esperança”. Pronto, estão a ver…? Até eu digo aos outros para se
agarrem à esperança, mesmo sentindo no meu coração que de pouco vale. Mas, se
não disser isto, digo o quê?
“Se acreditas em Deus,
reza”. “Se acreditas noutra coisa qualquer, segue-a”. “Acima de tudo, faz o que
o teu coração te manda fazer”. “Se for gritar, grita”. “Se for chorar, chora”. “Se
for partilhar, partilha”. Porque quando gritamos, choramos ou partilhamos, deitamos
cá para fora um bocadinho desta dor. Porque se a deixamos lá dentro, ainda nos corrói
mais. E não lhe podemos dar esse espaço. É que se o fazemos, ela é má e toma
mesmo conta de nós.
Tenho tanta pena...Mesmo. Há alturas, há casos, em que é difícil ter uma palavra de conforto. Daquelas
que confortam. Que aliviam. Que mostram um caminho. O caminho.
E, por isso, nessas
alturas só podemos dar o que temos. Um ombro forte. Um sorriso que compreende. Um
abraço demorado. Um beijo mais profundo. Um dar a mão mais apertado. Como quem diz, “Nada
posso fazer ou dizer, mas estou aqui”. E estou. E fico. E vou. Mesmo que esteja longe.
Desenrasco-me e vou.
No fundo, mesmo
lá no fundo, este texto todo só porque hoje o que me vai na alma era mesmo a vontade ter um dom.
Não o da palavra. Esse, têm muitos. Mas o da palavra certa. No momento certo.
Sempre na ponta da língua. Que acalmasse a dor nos outros, Que, bolas, é tão pior
que a minha.
Só agora li este texto... sabes como me toca, parece que é escrito para mim... um beijo e obrigada!
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