22 de fevereiro de 2013

"Escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve."

A bem da verdade, o título não devia ser este. Devia ser “ter inspiração para escrever é do caraças”. E é. Porque escrever é fácil, desde que saibamos sobre o quê. Mas às vezes, cadê o tema?

Desde que decidi ter um blog e, acima de tudo, desde que percebi que havia gente interessante interessada no que eu escrevia, que passo parte do dia a pensar: mas sobre que raio é que é que eu vou escrever logo? Sim, e dou por mim também a pedir aos santinhos que me iluminem e que me lembrem de algum momento que me apeteça partilhar.
Até agora tenho-me refugiado em episódios da minha vida. Em momentos bons e em momentos maus. Sempre reais. Recordações.

Mas sempre momentos com algo que, no fim, deixasse quem me lê a pensar.
E isto leva-me à inspiração.
 
 

Nos dicionários comuns que pesquisei, encontrei várias definições. Mas vou falar apenas de algumas.
Desde logo, inspiração ligada à Fisiologia e que se refere “ao movimento pelo qual se leva o ar aos pulmões”. Sim, para escrever também preciso de ar nos pulmões. Por isso, serve.

Depois vem a inspiração ligada à Teologia, e que tem a ver com a “infusão da vontade divina na consciência humana”. Apesar da minha educação católica, há dias em que tenho alguma dificuldade em acreditar que existe mesmo alguém lá em cima a olhar por nós. Mas, mais do que haver esse alguém, principalmente, que ele era magrinho, cabelo comprido, barba por fazer, que morreu na cruz e que, passados três dias, ressuscitou. Por isso, esta definição não me serve de muito.
Segue-se “ideia ou pensamento súbito”. Isso sim, é o que me dava jeito, mas às vezes escasseia.

Também fala de “faculdade criadora”. Tem dias. Hoje parece que não é o dia.
Mas calma. Finalmente encontrei aquela definição de quem mais gostei: “acção de inspirar algo a alguém. Que influência.”

Tenho 37 anos e, quer eu queira, quer eu não queira, por tudo o que já me aconteceu, umas vezes inspiro, outras vezes influencio.
Não gosto particularmente do Saramago, irritava-me a falta de humildade e, vá, a falta de vírgulas, mas lembro-me que ele dizia sobre o acto de inspirar: “imaginemos que eu estou a pensar determinado tema e vou andando, no desenvolvimento do raciocínio sobre esse tema, até chegar a uma certa conclusão.” Agora pergunto: já encontrei uma conclusão para este texto? Não, não encontrei. Isto não vai acabar bem. É que lendo o que ele diz parece fácil, mas não é.
 
Já Mandela defendia que a sua inspiração eram “os homens e mulheres que lutam contra a supressão da voz humana, que combatem a doença, a iliteracia, a ignorância, a pobreza e a fome. Alguns são conhecidos, outros não. Essas são as pessoas que me inspiraram.” Discordar com isto era, no mínimo, ser estúpida.
Até aqui inspirei-me nas inspirações dos outros mas...e para mim? O que é inspiração?

Para mim inspiração é ir à varanda, olhar para o meu pinhal e sonhar como é que os animais que ali vivem se relacionam entre eles. As suas histórias. E sim, acompanhar o gato coxo e gordo, vadio, que vive como um rei na minha rua.
Para mim inspiração é olhar para trás e continuar a acreditar que vai sempre haver um dia, um minuto, um segundo, um pequenino momento em que algo diferente acontece, que me faz voar no tempo. Para a frente ou para trás. Isso não é relevante.

Para mim inspiração é ser genuína, dizer a verdade. É não ter vergonha de ouvir uma música de amor “muita” foleira e lembrar-me de quando estive apaixonada.
Para mim inspiração é olhar para a minha sobrinha a crescer e acreditar que vai ser uma miúda que vive em liberdade e feliz.

É, acima de tudo, olhar para tudo o que acontece à minha volta e conseguir ver ali uma história para contar.
Mas que, como disse no início deste texto - parvo, é certo, e talvez até inútil - uma história que deixe quem me lê a pensar. Que faça chorar. Que faça rir. Que faça mexer qualquer coisinha dentro dela. E que a deixe com vontade de a partilhar. Com alguém que naquele dia precisa de sentir alguma coisa. Boa ou má. Mas alguma coisa.


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