Desde que decidi ter um blog e,
acima de tudo, desde que percebi que havia gente interessante interessada no
que eu escrevia, que passo parte do dia a pensar: mas sobre que raio é que é
que eu vou escrever logo? Sim, e dou por mim também a pedir aos santinhos que
me iluminem e que me lembrem de algum momento que me apeteça partilhar.
Até agora tenho-me refugiado em episódios da minha
vida. Em momentos bons e em momentos maus. Sempre reais. Recordações.
Mas sempre momentos com algo que, no
fim, deixasse quem me lê a pensar.
E isto leva-me à inspiração.
Nos dicionários comuns que pesquisei,
encontrei várias definições. Mas vou falar apenas de algumas.
Desde logo, inspiração ligada à
Fisiologia e que se refere “ao movimento pelo qual se leva o ar aos pulmões”.
Sim, para escrever também preciso de ar nos pulmões. Por isso, serve.
Depois vem a inspiração ligada à Teologia,
e que tem a ver com a “infusão da vontade divina na consciência humana”. Apesar
da minha educação católica, há dias em que tenho alguma dificuldade em
acreditar que existe mesmo alguém lá em cima a olhar por nós. Mas, mais do que
haver esse alguém, principalmente, que ele era magrinho, cabelo comprido, barba
por fazer, que morreu na cruz e que, passados três dias, ressuscitou. Por isso,
esta definição não me serve de muito.
Segue-se “ideia ou pensamento súbito”.
Isso sim, é o que me dava jeito, mas às vezes escasseia.
Também fala de “faculdade criadora”.
Tem dias. Hoje parece que não é o dia.
Mas calma. Finalmente encontrei
aquela definição de quem mais gostei: “acção de inspirar algo a alguém. Que influência.”
Tenho 37 anos e, quer eu queira, quer eu não queira, por tudo o que já me
aconteceu, umas vezes inspiro, outras vezes influencio.
Não gosto particularmente do Saramago, irritava-me a falta de humildade e, vá, a falta de
vírgulas, mas lembro-me que ele dizia sobre o acto de inspirar: “imaginemos
que eu estou a pensar determinado tema e vou andando, no desenvolvimento do
raciocínio sobre esse tema, até chegar a uma certa conclusão.” Agora pergunto:
já encontrei uma conclusão para este texto? Não, não encontrei. Isto não vai acabar bem. É que lendo o que ele diz
parece fácil, mas não é.
Já Mandela defendia que a sua inspiração
eram “os homens e
mulheres que lutam contra a supressão da voz humana, que combatem a doença, a
iliteracia, a ignorância, a pobreza e a fome. Alguns são conhecidos, outros
não. Essas são as pessoas que me inspiraram.” Discordar com isto era, no mínimo, ser estúpida.
Até aqui inspirei-me nas inspirações
dos outros mas...e para mim? O que é inspiração?
Para mim inspiração é ir à varanda,
olhar para o meu pinhal e sonhar como é que os animais que ali vivem se relacionam
entre eles. As suas histórias. E sim, acompanhar o gato coxo e gordo, vadio, que
vive como um rei na minha rua.
Para mim inspiração é olhar para
trás e continuar a acreditar que vai sempre haver um dia, um minuto, um
segundo, um pequenino momento em que algo diferente acontece, que me faz voar
no tempo. Para a frente ou para trás. Isso não é relevante.
Para mim inspiração é ser genuína,
dizer a verdade. É não ter vergonha de ouvir uma música de amor “muita” foleira
e lembrar-me de quando estive apaixonada.
Para mim inspiração é olhar para a
minha sobrinha a crescer e acreditar que vai ser uma miúda que vive em
liberdade e feliz.
É, acima de tudo, olhar para tudo o
que acontece à minha volta e conseguir ver ali uma história para contar.
Mas que, como disse no início deste
texto - parvo, é certo, e talvez até inútil - uma história que deixe quem me lê
a pensar. Que faça chorar. Que faça rir. Que faça mexer qualquer coisinha
dentro dela. E que a deixe com vontade de a partilhar. Com alguém que naquele
dia precisa de sentir alguma coisa. Boa ou má. Mas alguma coisa.
A inspiração é o rastilho que empurra a imaginação... continua a ser a função da Musa!
ResponderEliminarObrigado Marta.
Gosto muito...
ResponderEliminarvan
ResponderEliminartekirdağ
şırnak
ardahan
yalova
X8SD