De acordar de manhã e ver que está sol. Ou a chover. Mas que acordei. Que estou viva. Mais um dia.
De sonhar e lembrar-me do sonho.
De me espreguiçar mas, ao fazê-lo, sentir cada bocadinho
do meu corpo a descontrair.
De ouvir no quarto ao lado, a minha mãe a abrir o estore.
Também a tenho mais um dia.
De acordar sem enxaquecas. Quem tem, sabe do que falo.
De tomar o pequeno-almoço e ir a correr para a varanda
para me despedir da mana e da Carlota. Mais um dia de trabalho e de escola. Mais
um dia que passa, e também elas estão por cá.
De tomar um banho quente, rápido, mas com tempo suficiente
para sentir a água a escorrer-me pelo corpo. De preferência com o cheiro do gel
de duche de chocolate.
De olhar para o espelho e ver algo que me agrada. Por
fora. Durante os meses em que estive doente e magra, não queria sequer ter
espelhos à minha volta. E foram meses demais.
Mas também de olhar para dentro de mim e gostar do que
vejo. Orgulhar-me. Chama-se amor-próprio e ajuda-nos muito a viver na selva em
que o mundo se tornou.
De ir à empresa e sentir que fiz falta nos dias em que
não apareci. Que notam quando não estou.
De ouvir a minha rádio enquanto trabalho em casa, enquanto
arrumo o quarto, enquanto me arranjo para sair. Ou para estar em casa.
De chegar à hora de almoço e sentir fome. Passei meses a
mais a não sentir, por estar doente.
De receber ou fazer um telefonema a uma amiga com quem já
não falo há muito tempo. Mas esse tempo parecer quase nenhum.
De não deixar passar um dia sem sentir que fiz alguém
feliz. Ou porque lhe sorri, ou porque lhe agradeci, ou porque a ouvi.
De pegar num livro e mergulhar na história. De tal forma,
que o leio em poucos dias. Nunca mais me esquecer da história. E, quando
escolho um presente para uma pessoa especial, escolho esse livro, na esperança
que ela sinta o mesmo que eu senti ao lê-lo.
De me enfiar na cozinha e inventar. Ou apenas de cozinhar
para a minha família. Desde umas simples costeletas com arroz até algo mais
elaborado. E depois dizerem-me que “ficou bom”.
De fazer um grelhado na varanda para…as 4.
De beber uma garrafa de espumante com a minha irmã ao
Sábado à noite, em casa, e ficar com a gargalhada mais fácil. E com as
bochechas vermelhas. Depois disto, um charuto e um porto.De chegar à noite a casa e ter a lareira acesa, a Carlota à espera, tratada, confortável e cheia de histórias para contar. Ou de ser eu a tratar dela.
De dormir uma sesta depois de almoçar em casa, no fim de
semana. No Inverno, com os meus sacos de água quente.
De ouvir o crepitar da lareira numa noite de Inverno. Ou
os grilos numa noite de Verão. E os corvos durante o ano todo.
De mantas. Muitas mantas. E almofadas. Muitas almofadas.
E de sacos de água quente. Muito quentes.
De me lembrar do Gaspar sem chorar. Sei que ainda vai
levar tempo.
De ver televisão esparramada no sofá.
De café acabado de fazer. Acompanhado de 3 quadradinhos
de chocolate de leite Milka.
De estar na minha varanda. E ver o que vejo dela. A lua,
por exemplo.
De escrever. Mesmo coisas assim, sem grande sentido. Mas
escrever. Deitar cá para fora o que me vai na alma. Mesmo que só me interesse a
mim.
Das histórias que vivi e que consegui passar para o papel
com a intensidade com que as vivi.
De me sentir feliz só porque…sim. Sem mais grandes
explicações. Só porque sim.
De poder fazer tudo o que acabei de escrever, mas ter a
capacidade de sentir no coração que o estou a fazer. E ficar quentinho. Para mim, ser feliz passa por pouco. Porque estive perto demais de nunca mais poder sentir. Mas, se calhar, foi preciso. Para perceber como é bom poder sentir. E quando eu digo sentir, é mesmo isso: Sentir. Com S grande.
Como alguém um dia disse, "A
felicidade não é um luxo: está em nós como nós próprios."
Ser feliz e fazer por ser, é isso mesmo, o meu luxo.
Uma das coisas que me deixa feliz, é ter a sorte de a ler.....;) Obrigada!
ResponderEliminar