Há uns dias circulou
nas redes sociais uma campanha de publicidade brilhantemente criada por um português, da Maia,
que me emocionou. E o que me emociona, regra geral, inspira-me.
Fala sobre um
tema em que poucos pensam e, se pensam, poucos falam. E por pouco se falar,
torna-se num problema.
Fala sobre
gostarmos de nós. Ou melhor, sobre o não gostarmos de nós.
Fala, em
particular, do nosso corpo. De não nos contentarmos com o que a natureza nos
reservou. É muito mais um problema feminino que masculino. Apesar da balança se
começar a equilibrar nos dia de hoje, até nisto.
Todos nós
nascemos com um aspecto. Com um feitio de corpo, um tipo de cara, uma forma e
cor de cabelo. Com um conjunto de pontos que, unidos, formam a nossa figura. O
tal “aspecto”.
Mas a campanha vai
mais longe, fala sobre mais do que isto. Fala sobre a diferença entre a forma
como nos vemos e a forma como os outros nos vêem.
Fala sobre
aceitarmos as nossas imperfeições. Olharmos para elas com um certo carinho. São
nossas.
Fala sobre o
avançar da idade, o chegar das rugas e dos cabelos brancos. Fala de estar vivo.
Fala sobre
percebermos que, ao aceitarmos o que temos de menos bonito – e atenção que eu
não uso a palavra “feio” -, somos pessoas mais completas e mais equilibradas.
Inteiras.
Mas nada como dar
um exemplo. E nada como me usar a mim como tal.
Antes de ficar de cadeira de rodas, até aos 15
anos, era uma “pequena mulher”. Pequena porque era quase uma criança, mulher
porque o corpo já se tinha desenvolvido bastante. Na altura, eram poucos os que
me davam a idade que, de facto, tinha.
Quando me
acontece o acidente que me deixa de cadeira de rodas, muita coisa mudou. E o
corpo foi uma delas.
Emagreci quilos
atrás de quilos. Fiquei literalmente pele e osso. Perdi tudo o que me poderia
tornar mulher.
Com o tempo, fui
recuperando o peso, as curvas e a coisa foi-se recompondo..
Anos depois
deparo-me com uma septicemia e voltei ao modo “tábua-de engomar-nº2" lá de casa.
Todos os quilos que até ali tinha ganho, voltaram a desaparecer. Estava com
aspecto de doente. E estava mesmo.
Na altura olhava
para o espelho e não gostava do que via. Não encontrava roupa que disfarçasse a
magreza e os ossos. Nada me assentava no corpo.
Na altura tentava
lidar o melhor possível com a situação, mas não foi fácil.
Depois de 1 ano e
meio de recuperação dos internamentos e das cirurgias, o meu corpo volta a
estabilizar. E, porque voltou a ser saudável, atrás disso vieram os quilos. Sem
infecções, voltou o apetite.Na altura da septicemia devo ter estado um ano sem fome ou a comer mal. Quando me vi livre da má disposição e recuperei a vontade de comer, não me privei de nada. Resultado: passei um bocadinho do peso “ideal”. Ou melhor, passei a ter o peso “ideal” para não ter feridas, logo, infecções, mas ultrapassei o peso “ideal” para caber em todas as roupas.
Acabei por me
habituar. Nada como comprar um ou dois números acima e quase tudo volta ao
normal. Mas este facto também implicou habituar-me a viver com esses um ou dois
números acima.
Hoje olho para o
espelho e, apesar de gostar do que vejo, claro que mudaria algumas coisas. Mas
não conheço ninguém que não mudasse. Por isso posso considerar-me, no mínimo,
dentro da média.
A verdade é que,
perto dos 40,o corpo já não é o mesmo que aos 20. A lei da gravidade já
espreita, as dietas não surtem efeito como antigamente, alguns dos cabelos já
são brancos, as rugas já fazem parte de um sorriso mais aberto.
Para além disso,
todas as cirurgias pelas quais passei deixaram marcas. Cicatrizes. Mas também
aprendi a conviver com elas. São bonitas? Não, não são. Se as exponho? Só se
precisar mesmo. Se as aceito? Caro que sim! Prefiro olhar para elas como marcas
de ter sobrevivido a um momento mau da minha vida. Um momento que já lá vai. Que
faz parte da história. Da minha história. E que, só por isso, e apesar disso,
nunca vou querer esquecer.
Este é o meu exemplo.
É extremo, verdade, mas é aquele que posso partilhar convosco.
Também sei que a
verdadeira beleza vem de dentro. Parece um cliché mas é verdade. Quantas
pessoas bonitas por fora abrem a boca e perdem a graça? Quantas pessoas menos
interessantes fisicamente quando o fazem fascinam qualquer um/a?
Muito bem, todos
concordamos com isto. Mas também é verdade que ainda não existe visão rx para conseguir,
num primeiro olhar, perceber a beleza interior e, por isso, o que está cá fora é muito
importante. É o que causa a primeira impressão. E a primeira impressão é,
normalmente, a que fica.
Mas aceitar o
aspecto com que nascemos não invalida que não o tentemos melhorar, caso não
gostemos do que vemos. Que venham de lá essas dietas, sempre com exercício físico,
e até as plásticas! Porque não? Desde que não se entre em excessos, porque não?
E depois, tudo o
que não se resolve com as ditas dietas, exercício ou plásticas, resolve-se com pequenos
truques. Barriga grande, camisola larga na zona, braços gordos, camisolas “asas
de morcego”, pernas curtas, sapatos com saltos mais altos, olhos pequenos demais, um bocadinho de maquilhagem no local certo, etc, etc, etc…! Há que saber
valorizar o que de melhor temos, disfarçando o que temos de menos, eu diria,
perfeito. Há sempre uma solução. Sejamos espertas (e espertos) e façamos um
esforço para encontrar a que melhor se adequa a nós.
Mas antes de tudo
isto, há uma regra de ouro: aceitar o corpo com que nascemos. Porque há coisas
que não conseguimos mudar. É fácil? Às vezes não é. Mas é algo que tem que ser
trabalhado. Fazer tudo para melhorar. Aceitar. Até porque, quem nasceu com as
ancas largas, nunca as vai ter estreitas, e quem nasceu com 1m60, nunca terá 1m80.
Aceitar. E melhorar o que pode ser melhorado.
Porque uma coisa
é certa: se aceitarmos, vamos ser muito mais felizes. E, tal como o contrário
acontece, se nos acharmos bonitas, os outros vão achar-nos deslumbrantes. Se
nos acharmos bonitas, vamos ser mais seguras. Se formos mais seguras, passamos
mais credibilidade e força. Se passarmos esta força, chegamos mais longe. E o
longe pode ser meeeesmo muito longe!
A campanha criada pelo
rapaz da Maia fez-me pensar nisto. Fez-me pensar em tudo o que o meu corpo já
passou. Que houve tempos em que o espelho do quarto quase saiu disparado pela
janela. Mas não saiu e ainda hoje está. E que hoje gosto de olhar para ele.
Esta campanha fez
mais que isto: lembrou-me que, para além dos percalços da vida, a idade também se
vai reflectindo no corpo, e que contra isso nada poderemos fazer. A não ser
aceitar que a vida é mesmo assim, aprender a valorizarmos o que de melhor temos,
e aproveitar a vida. Até porque ela é curtinha!
E termino com o
que me emocionou, esperando que vos inspire. A criatividade do Hugo Veiga, um rapaz
do norte. Vejam com atenção e pensem bem na mensagem que ele passa.
Partilhem. Porque é preciso pôr toda a gente a sentir-se a pessoa mais bonita do mundo.
Obrigada!
ResponderEliminarSem palavras...
obrigada pela partilha
Só vi hj o vídeo. Já tinha lido o teu post mas na altura em que o li estava limtidao a texto sem possibilidade de aceder visualização do video. Está excelente, só me apetece juntar uma data de amigos e anóminos e fazermos todos esta experiência.
ResponderEliminarTá espectacular, o aceitar-mo-nos e valorizar-mo-nos tem que se lhes diga. Excelente!
És uma inspiração, Marta ;)
ResponderEliminarVitor Gaspar