Esse alguém perguntava-me se eu era feliz no meu trabalho. Disse-lhe que
sim. Mas que não tinha sido para aquilo que tinha estudado. Estava ali por mero
acaso.
Perguntou-me “e estudaste para quê?”. “Para trabalhar em televisão”,
respondi.
“E porque não seguiste o teu sonho?”. Respondi “a vida levou-me por este
caminho, aceitei o desafio, comecei a ganhar algum dinheiro, necessário na
altura, e fui-me deixando ir. Quando dei por mim, já não dava para voltar para
trás.”
Mas às vezes penso “e será que não dava mesmo?”. Depois passo à frente.
Em miúda não fui diferente das outras crianças da minha idade. Quis ser
hospedeira. Astronauta. Depois veterinária. Mas cedo decidi que o que queria mesmo era ser
jornalista. De Televisão. E, quando surgiu, da SIC.
Era com aquele canal que me identificava. Com a Informação. E também visualmente.
Sabia, tinha a certeza que ali eu ia ser feliz.
Mas a meio do caminho, um dia, na praia, uma amiga pergunta-me se eu estava
interessada em ir a uma entrevista na empresa onde trabalhava, para a função de
assessora de imprensa. Perguntei “isso não é para ministros?”, e ri-me. Mas fui.
Nesse dia pintei as unhas e vesti uma camisa da minha mãe. Cinzenta com
riscas brancas. Nunca mais me esqueço. Estava-me larga e, por isso, tive que a prender debaixo do rabo.
Quando cheguei fui encaminhada por essa minha amiga para uma sala. “Ficas
aqui que eu vou chamar a pessoa que te vai entrevistar.”
Quando ele entra na sala, vejo um homem com cerca de 40 anos, bom aspecto.
Sentou-se e começou a fazer-me perguntas. Entre elas “percebe de computadores,
interessa-se por esta área”. Pensei “estou frita! Nem aguento o Pac Man, quanto
mais gostar disto…!” Mas respondi “nunca me debrucei sobre este tema, confesso
que não sou muito sensível a tecnologia, mas aprendo rápido! Para além disso
gosto de escrever e, se o fizer de uma forma que eu perceba, vos garanto que
todos os jornalistas vão perceber o que aqui se faz”.
Não estava nervosa. Ao contrário da minha amiga, que numa hora bebeu todas as
garrafas de água que estavam em cima da mesa…
Explicaram-me a função, o objectivo da função e eu disse “se é para falar
com jornalistas, se é preciso à vontade, isso sim, é comigo. Acho que me safo
bem porque não me calo, falo pelos cotovelos...” E rimo-nos.
No fim da conversa, o entrevistador perguntou-me “quando pode começar?”. Apanhou-me
de surpresa porque, podia não perceber nada de entrevistas de emprego, mas
sabia que normalmente nos mandavam para casa e só depois nos contactavam com uma
resposta. Mas ele disse “não vamos procurar mais. Parece-meque encontrámos
a pessoa certa. Vamos experimentar?”. “Sim, vamos, se correr mal, volto à minha
vida”, respondi com um sorriso despreocupado. Mas com curiosidade em perceber
se ia estar à altura.
E assim fiquei na empresa onde estou há 14 anos. Cresci com ela, e ela
comigo.
O outro sonho, o da televisão, passou para segundo plano. Guardei-o numa gaveta.
Continuei, porém, atenta a tudo o que se fazia naquele canal. Até hoje. Sempre
que faz anos, sempre que muda de cenário, sempre que um dos jornalistas faz uma
reportagem inovadora, original, o meu coração acelera. É como se fosse um
bocadinho meu. Confesso.
Tenho hoje amigos ex-colegas em todos os canais. Mas, que me desculpem,
aquele continua a ser O canal.
Entretanto, a pessoa com quem falei dos sonhos, tornou-se num bom exemplo. Seguiu
o seu e tem hoje um cargo de topo na minha empresa. Começou devagarinho, foi
ganhando cada vez mais responsabilidade. E, acreditem, chegou longe.
Hoje posso dizer que o meu coração tem dois amores. O que faço hoje e o que
não fiz há uns anos.
Por muito que por vezes dê por mim a pensar “e se tivesse antes ido por
ali?”, sou feliz. E, porque quem ama de verdade fica feliz pelo outro, fico
ainda mais quando vejo o meu segundo amor a fazer um bom trabalho.
A verdade é que passamos demasiado tempo na vida…a planear a vida. E, enquanto
estamos distraídos a controlar tudo, prever tudo, corremos o risco de estar a deixar
escapar por entre os dedos outros caminhos que também nos podem fazer
felizes. Contra mim falo.
Ter sonhos é óptimo, nunca devemos deixar de sonhar. Mas, para isto ser minimamente interessante, vale a pena
acreditar que a vida tem reservadas para nós muitas surpresas.
Afinal, como já li algures, “as
coisas boas vem com o tempo. As
melhores, de repente.”
Sinto em você uma grande força. Do tipo de pessoa que nos engrandece ao conhecer. Deixei uma mensagem na sua página do facebook.
ResponderEliminarGostei muito do seu blog!
Obrigada Maria! E seja muito bem vinda!
ResponderEliminarHá sempre alguém que tem uma história que lembra quem somos. A sua lembra a minha: a escolha que fiz e a que ainda posso fazer. Sou licenciada em Ciências da Comunicação e o meu sonho era a reportagem. Sonhei contar histórias de vida e vidas com história. Depois, a pressão de encontrar um trabalho e ganhar algum dinheiro fez-me tomar decisões e, em vez de ficar à deriva enquanto procurava uma oportunidade para realizar o sonho, preferi jogar pelo seguro e começar a trabalhar na oportunidade que tinha. Trabalho em comunicação empresarial há quase dois anos. O seu texto fez-me pensar: e o que faço ao sonho? Guardo-o numa gaveta? Pois, não sei. Mas cá vamos, cantando e rindo e aproveitando o que a vida nos dá. Talvez um dia seja o momento de me transformar numa verdadeira caçadora de sonhos.
ResponderEliminarOlá Joana, é tão bom quando as pessoas se revêem nas nossas histórias e eintam que não estão sozinhas:)
ResponderEliminarMas uma coisa te digo: se podes vai atrás do teu sonho. Eu não pude porque precisava mesmo de ajudar em casa, mas se este não é o teu caso, proveita cada minuto bom que o teu trabalho te traz. Enjoy!
Bjinho e mantém-te por perto!
Olá Marta,
ResponderEliminarHoje fiquei a conhecer o seu blog, porque li uma notícia no jornal sobre si, e da qual me emocionou muito.
Aproveito para lhe dizer que gostei muito do seu blog, vou passar a visitar regularmente e que admiro muito a sua força de viver.
Beijinhos.
Obrigada Manela! Será um prazer tê-la por perto!
ResponderEliminarBeijinho,
marta
Olá Marta.
ResponderEliminarTambém eu acabo de ler a reportagem no JN e de pronto achei dever dar-lhe conta de uma terapia que, estou em crer, lhe fará algum benefício, como aliás tem vindo a acontecer a muito boa e necessitada gente. Refiro-me à 'auto-hemoterapia'. Nunca ouviu falar? Não me admira pois é o que acontece com a grandessíssima maioria de nós. Quanto a mim, não fosse ter havido há uns anos,lá pelo Brasil forte polémica acerca do seu uso (que chegou a estar interdito pelo organismo que lá gere a saúde) a partir dum testemunho de um médico que sempre a usou, tanto como tratamento complementar ou único, também estaria assim, obviamente. Não me vou aqui alongar quanto a pormenores pois há na rede farto manancial, como acabará por conhecer. Dele apenas destacarei, pela sua especial importância e relevância, o depoimento que linko abaixo. A partir daí acredito que será bem fácil para si decidir ser mais uma das suas felizes beneficiárias. Aqui em Portugal nunca houve qualquer problema e o nome pelo qual é mais conhecido era (e é) 'auto-sangue', prática bastante usada desde os princípios do século passado até seus meados. Apenas foi sendo liminarmente abandonado o seu uso à medida que a indústria farmacêutica foi tomando conta do mercado dos medicamentos. De qualquer maneira e graças portanto à 'bendita' polémica no Brasil está também por aqui em vias de recuperação, apesar da forte renitência e resistência sobretudo da classe médica, pois, felizmente, muitos enfermeiros há que a praticam, a pedido. Segue por isso mais um link de um forum de enfermagem aonde consta,logo de início, referência a uma enfermeira (Guida Massano) que é uma das mais determinadas defensoras da terapia em Lisboa.
E por aqui me fico. Espero que essa sua contagiante alegria de viver se mantenha sempre em alta e que a Energia Luminosa deste tempos de todas as mudanças mas também de todas as esperanças a eleve cada vez mais alto e mais longe.
Um forte abraço e até!
Álvaro Barria Maio
PS: Dei uma olhada no seu 'perfil' e reparo que gosta muito de animais, mas também de... bifes, batatas fritas e coca-cola. Tendo em conta a qualidade de vida interior que ressoa dos seus escritos, parece-me ir ao arrepio da 'qualidade' desse tipo de alimentação, sobretudo nestes especiais tempos em que nos preparamos, como Humanidade, para profundas mudanças de paradigma, que terão, inexoravelmente, de começar pelas mudanças dentro de nós mesmos. Desculpe-me o desabafo mas também já me alimentei desse jeito quando tinha a sua idade, já lá vão trinta anos. Agora, dado o enorme acervo de conhecimento que temos de como o 'sistema' nos vem tratando da sáude (e de tudo o resto, também) já não há, em consciência, condição de manter esse 'status' degradado.
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/387723
http://forumenfermagem.org/forum/index.php/topic,8214.0.html
Ola Marta tal como nos outros comentários tb li sua reportagem no jn.
ResponderEliminarQueria lhe dizer que gostei muito e que parece ser uma grande Mulher.
Tb eu tenho uma deficiência mas infelizmente na área do trabalho n tenho tido tanta sorte como a marta,é muito difícil alguém acreditar em nos ainda existe muito preconceito,mas vái-se vivendo com todas estas vicissitudes da vida pk faz parte.
Continue e muita força é um exemplo a seguir fonte de grande inspiração.
Beijinhos
Branca,
EliminarEu sei que não é fácil mas nunca podemos desitir!
E obrigada, de coração, pelas suas palavras!
Um grande beijinho,
marta
"Qualquer pessoa pode simpatizar com os fracassos dos outros. Mas é preciso ter uma natureza delicada para simpatizar com os sucessos!"
ResponderEliminar(Oscar Wilde)
Fico feliz por você me parecer uma dessas pessoas!
P.