20 de junho de 2013

"Se a morte fosse um bem, os deuses não seriam imortais."

Todos os dias morre gente que não devia.

Dias que nos relembram que a vida pode não passar de um fio fininho que qualquer sopro de um vento mais forte pode partir em dois. Dias em que nos deparamos com a fragilidade disto tudo. Que hoje estamos cá, mas que nada garante que o mesmo aconteça amanhã.

Ficamos pequeninos. Minúsculos. Ninguém, no meio disto tudo. E, por isso mesmo, sem permissão para pedir mais, para exigir mais. Apenas agradecer por estar cá mais um dia, mais dois, mais alguns. Há quem não tenha essa sorte.

Morrer depois de cumprir a vida já é triste. Mas morrer antes disso é, no mínimo, estúpido.

O mundo, a vida, a nossa existência como ela foi pensada – se é que alguém um dia alguma vez a pensou – é uma máquina fantástica. Como o nosso corpo. Em que cada bocadinho está ligado ao outro. Em que a zona x da planta do pé tem um caminho invisível até ao fígado, que por sua vez, quando não funciona, se reflecte nos olhos, que amarelam e acendem um sinal vermelho para todos verem. Que o coração se atrapalha e faz doer o braço. Que a alma se baralha e faz cair o cabelo.

Nascer é um pequeno milagre. O facto de um bicharoco cabeçudo e de cauda poder ganhar a corrida, enfiar-se e desenvolver-se dentro de uma bolinha cheia de água, que por sua vez aumenta à medida que ele cresce, porque se vai alimentando por um “tubinho” e, 9 meses depois, sair dali um de nós…é obra.
 
 
Pensar que começamos por nada conseguir controlar, nenhum músculo, a fala, dependentes de alguém que nos ensine e ajude, e que o mais certo é acabarmos assim é…estranho.

Constatar que, dependendo da parte do mundo onde nascemos, saímos brancos, loiros, de olhos azuis, altos, ou antes de pele morena, cabelo escuro, olhos pretos, lábios grossos. E pensar que também dependendo dessa parte do mundo, cada um fala à sua maneira, da sua maneira…é do caraças.

Se isto foi inventado por alguém, esse alguém era um génio. Parece que pensou em tudo. Mas não pensou. Porque devia ter decretado uma lei, uma regra impossível de falhar: ninguém podia morrer antes de viver tudo o que há para viver.

Morre-se demasiado antes do tempo. Aos poucos. De repente. Por isto ou por aquilo. Mas tantas vezes antes do tempo. E isso não devia ser permitido.

Porque só se devia morrer quando já não houvesse nada para aprender ou ensinar. E, para isso acontecer, é preciso andar por cá muitos anos.

1 comentário:

  1. Olá Marta.
    Lá está este é daqueles temas q me apaixona muito. Passo horas a pensar nisto.
    De termos forma de como sociedade vivermos a vida tal como ela é, ou de como a queremos viver, para que quando este momento fatídico da morte chegar qualquer um de nós tenha tido a tal vivência o mais completa possível.

    É de facto como dizes actualmente quando se morre fica muitas das vezes o sentimento de que foi antes do tempo... Enfim...

    Beijinhos
    Bruno

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