Mas, para que percebam melhor, vamos andar cerca de dois anos para trás.
Estávamos em Junho de 2011. Alguém me tira uma foto e publica no facebook.
O Ricardo, um amigo que também anda em cadeira de rodas, vê essa foto e
comenta “mas que raio de cadeira é essa?”. Respondi a rir-me que era aquela que
a minha bolsa podia comprar.
Foi nesta altura que ele me chamou a atenção para o Programa “Ajudas
Técnicas”, do Estado. Trocado por miúdos, trata-se de um valor que o Estado disponibiliza
anualmente aos IEFPs para financiarem pessoas com algum tipo de deficiência que
precisem de material técnico, mas sempre no âmbito da promoção do seu trabalho e/ou
formação.
Confesso que primeiro desconfiei, porque nunca pensei que do Estado, neste
estado, viesse alguma coisa boa. Mas decidi meter mãos à obra e comecei a fazer
contactos. Na altura rebenta a crise e deparo-me com “não temos dinheiro”, “não
temos médico”, “não temos”, “não temos”, “não temos”.
Tudo bem, pensei, nunca tinha usufruído desta regalia, não ia morrer se as
coisas continuassem a ser assim.
Cerca de um ano e meio depois, em Novembro, o Ricardo volta a contactar-me
alertando-me para o facto do programa estar de novo a funcionar. Ou seja, tinha
voltado a haver dinheiro para as Ajudas Técnicas. Here I go again.
De imediato ponho-me em contacto com o IEFP de Almada e começamos a trocar
emails, documentos, assinaturas. Faço o levantamento do material que mais
precisava. Entre esse material, uma cadeira topo de gama e uma plataforma
elevatória para poder sair sozinha do meu prédio.
Depois de alguns meses e muita papelada junta, recebo um email do IEFP a informar-me
que estava tudo aprovado. TUDO APROVADO. “Sim, Marta, leste bem. Tudo aprovado”.
Nem queria acreditar. Mas era verdade.
A partir dessa altura, começo a sonhar todos os dias com o novo material, com
tudo o que nunca tinha feito e que poderia começar a fazer. Sempre que alguma
coisa me corria menos bem, voltava a olhar para aquele email de aprovação e
pensava “não tarda muito e isto vai ser uma realidade”. Melhorava.
Hoje, 8 ou 9 meses depois de iniciar o processo, entregaram-me a última
encomenda. Eu diria, a mais importante: a plataforma elevatória.
Acompanhei quase cada minuto da montagem. Não por achar que iria aprender
alguma coisa, mas porque aquilo que ali estava, aquela montanha de metal cheio
de tecnologia lá dentro, ia ser o meu passaporte para momentos que nunca tinha vivido.
Foi assim que hoje, quase 10 anos depois da Carlota ter nascido, pude sair
de casa sozinha e ir busca-la à porta do ATL. Foi assim que hoje, quase 10 anos
depois ter tido a sorte de ter sido tia de uma miúda como a Carlota, pudemos
sair só as duas depois do jantar, ir comprar um gelado ao café do senhor Ezequiel
e comê-lo no jardim das traseiras. Só as duas.
Parece pouco, mas não é. Não foi para mim e também não foi para
ela. Que no caminho me ia abraçando pelo pescoço e dando beijos sem dizer uma
palavra. Com aquele histerismo que se sente quando a felicidade se mistura com
nervos.
Hoje a minha vida deu um passo de gigante. E prometo que nunca mais começo
um texto por dizer “daqueles que estava longe que alguma vez desse”. Porque a
parte gira da coisa é que a vida, por muito complicada que seja, tem
sempre boas surpresas reservadas para nós.
Agora vou começar a pensar no próximo passo. Mas, para já, vou saborear
cada milímetro deste!
Parabéns, tu mereces!!!
ResponderEliminarE tens uma sobrinha Adorável.
Milhões de beijinhos para as duas.
É a minha primeira visita aqui ao blogue, mas como não comentar um post como este?
ResponderEliminarUm grande beijinho!*
Não sei o que me fez entrar neste blog, mas ainda bem que o fiz. EStas palavras são maravilhosas da mais para deixar de serem lidas. Obrigada pela partilha e obrigada ainda mais por uma prova incrivel que devemos ser muito gratos por tudo. um grande beijinho.
ResponderEliminarParabéns Marta!
ResponderEliminarPela cadeira nova, mas principalmente pela força de recomeçar todos os dias, com força e determinação!
Um beijinho
E eu choro a ler este post! Mas de emoção e alegria por si e pela sua força!!!
ResponderEliminarBeijinho para a Marta e para a Carlota!!
Marta:
ResponderEliminarNão tenho palavras, Marta, tudo que haja de bom é pouco para ti.
Só te dou muitos beijinhos
São (vizinha de alvalade)