6 de agosto de 2013

Somos as duas faces da mesma moeda.

Nunca tinha lido nada do Paulo Coelho.

Apesar de me cruzar todos os dias com frases dele - com as quais nem discordo, é um facto - e apesar de estar rodeada de tanta gente que já o leu, nunca me tinha sentido particularmente atraída pela escrita deste senhor.

Confesso que tanta espiritualidade, tanta conversa com Deus junta, me mantinha afastada. Para além daquele ar de actor de cinema, que também sempre mexeu com o meu sistema nervoso. E não tem a ver com ser um escritor comercial, porque sempre li de tudo.

Mas, continuando. Em Junho, quando se confirmou a cirurgia da minha mãe, e uma recuperação de 1 a 2 meses, decidi pedir alguns livros a 2 ou 3 amigas para a ajudar a passar o tempo. No fim, acabámos por trocar livros entre nós. Eu emprestei os que tinha cá em casa, elas os que tinham nas delas. Saiu mais barato, o que nesta altura de crise, faz todo o sentido.

Entre os vários títulos que me chegaram estava o “Demónio e a Senhorita Prym”.

Escrito em 2000, este livro conta a história de um homem que passa por uma das maiores provas que o ser humano pode enfrentar: empresário de sucesso, vendedor de armas, vê mulher e filha serem raptadas e mortas por terroristas. Mortas pelas armas que ele próprio vende. Mortas pela indústria que ele lidera.

Consumido pelo ódio, decide tentar entender a essência humana. O que nos leva a tomar a decisão certa ou a decisão errada. O que separa o Bem e o Mal. Qual a fronteira que separa um e outro. E, acima de tudo, tentar perceber se os dois podem viver ,e conviver, numa só pessoa.

Decide, para isso, viajar até Viscos, um vilarejo com poucos habitantes, todos eles honestos e trabalhadores. E, por isso mesmo, pô-los à prova. Um crime, um homicídio em troca de barras de ouro que trariam a eterna estabilidade e prosperidade económica a todos os que vivem naquele pequeno lugar perdido no mundo. O Padre, o Perfeito, a mulher deste, o ferreiro, a dona do hotel. A jovem Chantal, que acalenta o sonho de um dia sair dali, e a Berta, a velhota que passa as horas sentada numa cadeira à porta de casa, curiosamente à espera de ver, um dia, o Mal a entrar na sua vila de sempre. O que acaba por acontecer.

Toda a trama se desenrola num cenário onde a honestidade e a ganância são rainhas. Num cenário onde nos confrontamos com o passado de algumas personagens que nos ajuda a perceber as atitudes que tomam no presente. E como o passado de uns pode dar cabo do futuro de tantos.

 
É ali, naquele lugar esquecido, que se dá a luta do Bem contra o Mal. Mas, calma, não se preocupem que não conto o fim. Não vos quero estragar o prazer de viverem o final da história.
Voltemos ao autor. Como vos disse, nunca tinha lido nada dele. No meio da pilha de livros que me emprestaram, vinha este. Não lhe peguei logo. Antes li outros.

Até que a minha mãe comenta que o tinha tentado ler mas que não tinha conseguido passar da página 30. “Demasiado espiritual, não sei…não me prende, não tenho paciência”.

Aquilo deixou-me curiosa e decidi pegar nele. Li as primeiras páginas e, surpresa, só parei na última. Levei-o para a praia e li-o em poucas horas. Acontece-me sempre que me entusiasmo com as histórias.

Emocionou-me a forma como ali se confrontaram o Bem e o Mal. O Certo e o Errado.

Porque, de certa forma, me revi naquilo. Porque todos os dias, seja na minha vida profissional, seja na minha vida pessoal, nas relações que mantenho com quem me rodeia, tenho que tomar decisões. Porque, no fundo, eu, como acho que todos nós, sinto que tenho estes dois lados dentro de mim. O bom e o mau.
 
Quando somos confrontados com alguma situação e precisamos, naturalmente, de lidar com ela, por muito que tentemos, nem sempre conseguimos tomar o rumo mais certo. Todos os dias, eu diria até várias vezes por dia, somos levados a optar por um de dois caminhos. A tomar decisões. Infelizmente, nem sempre optamos pela melhor. Seja porque razão for, nem sempre optamos pela mais justa. Foi nisto que me revi.

E uma das frases que vou guardar do livro de Paulo Coelho é que “o Bem e o Mal têm a mesma face; tudo depende apenas da época em que cruzam o caminho de cada ser humano.” E esperar que consiga sempre distinguir um do outro.

Quanto ao autor, depois deste livro, talvez lhe dê outra oportunidade!
 
 

1 comentário:

  1. Foi poracaso que este livro também chegou me as mãos e já não recordava-me bem do enredo, gostei de revivê-lo no seu resumo!! Gostei muito também do "Onze Minutos", mas não consegui acabar nenhum dos outros livros do autor. (com exceção da sua autobiografia). Estou a fazer a experiência de ler meu segundo livro em pdf, embora no verão o que mais gosto é de ler ao ar livre! Continuação de boas férias e boas leituras!

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