15 de julho de 2013

I Love Me. Do You Love You?

A vida corre tão depressa que nem nos lembramos de como somos maravilhosos. E hoje apetece-me.

Passamos o dia preocupados com os prazos para cumprir, a olhar para o relógio, em reuniões, agarrados ao telefone. A tratar dos filhos, da casa. A contar os trocos para chegar ao fim do mês. Ficamos cansados. Por vezes engolimos tantos sapos que chegamos a duvidar das nossas capacidades.

Depois há alguém que nos abre os olhos com uma palavra, um gesto, nos puxa o lustre e que nos mostra todo o brilho que temos, o que valemos.

Sou uma gaja porreira. Feitio lixado, teimosa também, mas porreira.

Amiga dos meus amigos. Mas sem lamechices pelo meio.

Fui mimada em criança, mas não sou de grandes abracinhos ou agarranços. Sou de estar lá quando é preciso. Seja para dar um beijo, um abraço. Ou uma bronca.

Não sou a pessoa mais ternurenta do mundo, talvez a vida me tenha endurecido um bocadinho, mas sei ser ternurenta quando é preciso. E depois, claro, há meia dúzia de pessoas que me inspiram mais ternura e em que gosto mais de tocar. Vá, se calhar meia dúzia é muito.

Mas isto não significa que não goste que me abracem. Só não curto exageros e “gente cola-tudo”.

Sou justa. Regra geral consigo sair da situação, olhá-la de fora, e analisar a coisa de uma forma minimamente racional. E decido “contra mim”, se for necessário.

Sou bem-disposta. Gosto de uma boa gargalhada. Mas não me rio por “dá cá aquela palha”.

Gente exagerada põe-me doente. Gente que chora demais. Gente de grita demais. Gente que bebe demais. Gente que dorme demais. Gente lenta demais. Gente eléctrica demais. Gente que come demais. Gente que ri demais. Gente trombuda demais. Gente inteligente demais. Gente burra demais. Gente que não sabe onde está o seu limite. Limite máximo ou limite mínimo. Gosto de gente equilibrada, é só isso. E, atenção que eu nem sempre sou. Tenho dias em que passo por todos os estádios acima. Por isso não são poucas as vezes que sou alvo da minha própria irritação.

Sempre soube mais ou menos o caminho que queria seguir. Da mesma forma que sempre soube o que não queria.

Por isso nunca me droguei, nunca fiz figuras tristes com a bebida - apesar de ter apanhado boas/divertidas e inesquecíveis bebedeiras - nunca arranjei problemas de maior a quem me rodeia.

Sempre me considerei uma pessoa segura. Mas sem vergonha nenhuma de assumir que tenho momentos de insegurança. Nessas alturas olho para dentro de mim e percebo que gosto do que vejo. Gosto, aliás, muito do que vejo. Acredito nas minhas capacidades e avanço. Algumas vezes com o cu apertado, mas avanço. Quando não consigo isto sozinha, vou ter com alguém que me ajude a olhar cá para dentro. Está tudo cá dentro.

Porque me lembro de tudo o que passei, e ainda passo, para conseguir sobreviver num país que não está preparado para pessoas como eu, com mobilidade reduzida.

Porque me lembro que, mesmo sentada numa cadeira de rodas, e com todas as mazelas que me marcam o corpo por causa disso, continuo a sentir-me mulher e feliz.

Porque olho para o meu percurso profissional e percebo que só alguém com garra o poderia ter feito. Ainda para mais sentada numa cadeira.

Porque olho para o meu núcleo de amigos e sinto que só as boas pessoas têm a sorte de estar rodeadas de gente assim.

Porque olho para os pinduricalhos que não gostam de mim e sinto que só as boas pessoas têm inimigos destes.

Porque olho para o espelho e continua a apetecer-me pintar o cabelo, por batom, rímel, blush, pintar as unhas com cores fluorescentes. Arranjar-me. Estar bem. Para mim e para quem que me vê.

Não sou nem vou lutar para ser perfeita, porque isso não existe. Mas não tenho dúvidas que sou uma gaja 5*. Daquelas que vale a pena ter como amiga. Como colega. Como filha. Como irmã. Como tia.

Mesmo com todos os meus defeitos, tenho um orgulho do caraças em mim e em ser como sou.

E quanto aos poucos que ainda tentam passar-me aquela rasteirinha marota, tantas vezes movidos por invejas estranhas que nunca entenderei, jamais se esqueçam: estou sentada, meus caros; não tropeço. Quanto muito passo-vos com as rodas por cima dos pezinhos.

Aos outros: acreditem em vocês. Adorem-se. Todos os dias.
 






6 comentários:

  1. Muito bem dito. Boa mensagem.
    Abraço,
    Bruno

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  2. Bela mensagem, muito bonita mesmo, muitas vezes dou por mim bem em baixo e estas suas palavras que acabei de ler soaram magicas .
    Deveria ser lida por muito boa gente.

    Ofereceram-me hoje de manhã o livro das Selecções Reader`s Digest, e foi assim que por acaso fiquei conhecendo sua historia , confesso que me emocionei, a Marta é uma Mulher com M mais que maiúsculo , não tenho palavras , e até podia passar sem lhe mandar esta mensagem pois sou uma completa estranha para a Marta , mas senti vontade de o fazer só para a parabenizar pela Mulher forte, corajosa e vencedora que é .
    Só lhe posso desejar as maiores felicidades e tudo de bom.
    Ah já agora adorei seu blog.
    Muitos beijinhos.
    Cris

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  3. Obrigada Cristina, fico tão feliz de saber que ajudo e puxo para cima!
    E, já agora, parabéns pela Crisarte. É tudo giro, mas as bonecas dos cabelos compridos matam-me!
    1000 parabéns!
    bjinho,
    marta

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  4. Marta,quanto mais navego nos teus escritos,mais fico com a certeza de que és especial, estás muito acima dos et,s inhos (aqueles que só usam os olhos e não os neuronios)
    Modestias á parte,eu tmb sou assim, noutra vertente, também sei o que é ter et,s á volta de mim.
    O mundo necessita de pessoas como tu, podia dizer como nós,mas a estrela cintilante aqui tem nome de Marta, e se escrevo isto
    podes ter a certeza de que não é para agradar,ou fazer favor,assim como tu eu também digo o que penso.
    Em frente até aos 150.

    Kiss,

    Rui tartyuz

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  5. I Love Me,
    No fundo, sinto que somos iguais,devemos ser feitos da mesma matéria,se todos fossem assim,viviamos num paraiso.

    Kiss,

    R.T

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