11 de setembro de 2013

Venha cá c'agente ajuda!

Se há coisas que me encanitam é que alguém resolva a falta de acessos para pessoas com mobilidade reduzida com um “mas não se preocupe que nós ajudamos, sem problema…”. Lamento mas, aqui, a boa vontade, serve-me de pouco.

Hoje foi no super fashion & so trendy Cais da Pedra, do também super fashion & so trendy Henrique Sá Pessoa. Gosto do rapaz. Acho-o talentoso. Mas contratou os arquitectos errados, sorry.

Os dias de trabalho têm sido bravos. A necessidade de sair à hora de almoço e relaxar num restaurante agradável é enorme. E quando conseguimos fazer uma reunião de trabalho num ambiente destes, melhor ainda. A coisa tem tudo para correr bem. Certo? Errado.

Lá fomos nós, eu e a Cristina. Precisávamos de falar de trabalho mas de uma forma descontraída, longe das interrupções que normalmente acontecem no bar da empresa ou nos restaurantes mais próximos.

Convenceu-me com um “vou levar-te a um sítio giro, bom ambiente, onde se comem uns bons petiscos, com o rio como pano de fundo. Aproveitamos e falamos dos temas que temos pendentes.” Nem pensei duas vezes.

Assim que me aproximo da porta de entrada, um degrau enorme com uma porta pesadíssima. Subimo-lo, abrimo-la. De seguida ainda tive que me desviar porque, depois dessa porta, me deparo com um pequeno hall que me leva…a uma nova porta. Novo peso pesado, portanto. “Isto de papo vazio também não ajuda”, pensámos. Bola prá frente.
 
 

Segue-se o mais curioso no meio deste cenário: uma rampa bastante aceitável. Ufa, estou no interior do restaurante.
 
O dia está fantástico e decidimos ficar na esplanada. A Cristina já havia comentado comigo que me esperavam dois degraus. Volta a comentar, desta vez perto dos empregados. E um deles, cheio de boa vontade, diz “mas não se preocupe que nós ajudamos, sem problema”. As minhas tripas remexem-se. Não consigo evitar e encanito-me toda. De cara fechada respondo “vai desculpar-me, agradeço, claro, mas não devia ser suposto eu precisar de ajuda.” O gerente – penso que era o gerente – desculpa-se com um “tem razão...No outro dia até tivemos cá um senhor que tinha a perna partida que também acabou por precisar de ajuda…Devíamos ter uma rampa…”. Pois, mas não têm.

E por não terem, tenho que aceitar a tal ajuda. Um deles faz um “cavalo”, o outro ampara na descida agarrando nos pedais. A esplanada em peso a olhar, ou não estivéssemos em Portugal. Vem aí o ET. Once again…

O almoço estava bom. A gaita voltou a ser na saída.

Mais uma vez, o mesmo filme, venham de lá os empregados para acartar comigo. Vira de costas para os degraus. Faz cavalinho. 1, 2, 3, sobe o primeiro, 1, 2, 3 sobe o segundo. Baixa a cadeira, vira, segue caminho. Esplanada em peso a olhar. Que caraças! Percorremos o restaurante, abrimos o “portão”, passo, abrimos o segundo, descemos o degrau para a rua, com alguma dificuldade. Estou no passeio. Acho que já não tenho mais obstáculos até ao carro. Estou a salvo. E inteira. Vá lá.

Não percebo. A sério que não percebo. Não consigo compreender qual é a dificuldade em, havendo espaço, fazerem uma porcaria de uma rampa. Principalmente no caso deste restaurante, que teve o cuidado de – segundo me dizem porque eu não fui ver, mas acredito – fazer uma casa de banho adaptada. Se pensaram “em nós”, porque é que se ficaram pela metade?

O Cais da Pedra não é, de longe, o único a ter este problema. Hoje há espaços muito modernaços – uaaaau até têm casas de banho adaptadas - mas depois valem-se “da ajuda e do desenrascanço” tão portugueses. Eu agradeço o jeito, claro. Sei que a boa vontade existe e facilita. Mas preferia não precisar. Ser como “os outros” e não precisar.

Desta vez não pedi o livro de reclamações. Infelizmente de pouco serve porque, no que toca a acessibilidades, é muito fácil fugir ao Decreto-Leinº163/2006, de 8 de Agosto. Basta passar directamente ao Artigo 10.º e alegar que “ah e tal, as Excepções…”. Já para não falar das entidades responsáveis por fiscalizar, que pouco ou nada fazem.

Por isso, também vou ser modernaça e usar as novas formas de comunicar. Neste caso, as redes sociais. Que, sendo certo que servem para disseminar muita treta, servem também para denunciar muita coisa mal feita. Chegam longe.

No entanto, deixo uma promessa: no dia em que o exemplo for bom, farei o mesmo caminho. Para chegar igualmente longe.

E pronto, já sabem: se tiverem um pé ou uma perna partida, um joelho todo lixado, bolhas nos pés, se estiverem grávidas, conduzirem um carrinho de bebé, ou se se depararem com um problema num tornozelo, e quiserem ir ao Cais da Pedra…vão!
 
Mas peçam ajuda...porque vão precisar!

6 comentários:

  1. Eu de Cais da Pedra estou tratado.
    Eu também gosto do Sá Pessoa. Até fiz um curso de cozinha com ele.Mas é dele a responsabilidade.Foi ele que escolheu o arquitecto. A responsabilidade é do Chef.Melhor dito, do chefe.Um líder não negligencia os pormenores, por isso não deve negligenciar os "pormaiores".
    Por mim, que já não tinha curtido muito a coisa, está rematado.
    Trata-se de mais um "wannabe".É preciso começar a desconfiar das Time Outs e afins.

    ResponderEliminar



  2. Marta Guimarães Canário10 de Setembro de 2013 às 15:06

    Querido Rui, no dia em que a Time Out - revista que eu gosto - começarem usar o critério ACESSIBILIDADES nas suas análises, pode ser que a coisa funcione melhor:)

    ResponderEliminar
  3. e quando tens uma paragem de autocarro no meio de um passeio que entre a paragem e a parede não dá nem para passar uma pessoa mais forte? vais para a estrada ...
    é o que acontece em miraflores.
    é que é uma coisa básica e por sinal um local público , nem sequer dá para usarem o direito de admissão :P

    ResponderEliminar
  4. Para uma pessoa tão interessante, como pareces ser,digo-te que:
    Eu também,penso viver até 150 anos;)( pareces ter perfil para lá chegar).
    Por isso anima-te que no futuro vão aparecer rampas e acessibilidades por todo lado ;) poderás desfrutar das condições que mereces.
    Com ó sem cadeira,o importante é seres quem és, não te preocupes com os et,s que te olham só porque outros et,s não tiveram a inteligência de fazer acessibilidades,pois certamente serás mais importante do que isso.
    150 anos ,vou trabalhar para ser o Sportinguista mais velho do planeta,espero que possas dar luta ;)


    Fica super bem,
    Kiss




    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Então seremos velhinhos os dois e sempre a abrir:)! Obrigada pelas tuas palavras!
      Bjinho,
      marta

      Eliminar
  5. ola eu quero saber se vocês poderiam publicar um artigo sobre o meu jogo de android "Saicum Lite", eu acabei de publicar a versão gratuita no Google Play e um review em seu site seria uma grande ajuda, aguardo resposta, obrigado

    ResponderEliminar