A história que
vos conto hoje é simples mas, por isso mesmo, de contar.
Deram-nos aquela
orquídea há uns meses. Largos meses.
Esteve linda
durante muito tempo, mas foi perdendo o brilho, transformando-se lentamente num
pau seco, sem cor. Encarquilhado.
E assim ficou. E
ficou. E ficou. Murcha. Morta. Morta? Veremos.
Todos os dias
passava por ela e pensava “minha amiga…está na altura de ires para o lixo”.
Mas todos os dias
via a minha mãe a pegar no vaso, a pôr-lhe água, a trata-la. Todos os dias via
a minha mãe a escolher paciente e cirurgicamente o melhor local da casa para
colocar aquele pau que um dia já tinha sido uma flor. Locais estratégicos. Onde
houvesse mais luz, lá estava a orquídea. Durante muito tempo num dos quartos,
ultimamente no chão da cozinha, perto da varanda.
Habituei-me a
vê-la aqui e ali. Confesso que não lhe liguei muito. De vez em quando olhava
para ela e pensava “já foste, coitadita”.
Nunca tivemos
muita sorte com plantas ou flores aqui em casa. Aquela era só mais uma.
Lembro-me de ter
comprado 10 vasos e sementes de todas as espécies, idealizando uma varanda
cheia de vida e cor natural…e de ter acabado numa loja de chineses a comprar
flores de plástico. A verdade é que ainda hoje estão na varanda da frente. E
lindas. Trabalho? Nenhum.
Até que, nas
últimas semanas, a natureza me surpreendeu, mais uma vez.
“Olha, já viste?
Está a rebentar por todos os lados!” disse-me, entusiasmada, a minha mãe.
Arrastada, fui
ver. E estava. Lá estava. Cheia de “altinhos” ao longo do tronco, que já não
era seco, era verde, vivo. Alguma coisa estava a querer nascer dali.
Durante as
semanas seguintes fiquei mais atenta. Mas não lhe mexi, porque as minhas mãos
não são as da minha mãe. Tive medo que as estranhasse e se deixasse morrer de
novo. Limitei-me a ficar mais atenta.
Mas passava por
ela e já não a adivinhava no lixo. Passei a acreditar. “Já te safaste”.
E safou. Hoje a
valente orquídea está linda. Viva da Silva. Cheia de luz. Resultado apenas do
carinho e da persistência de alguém que não desistiu dela. Resultado da
dedicação, do tempo e do carinho que a minha mãe lhe dedicou.
Ver esta
transformação fez-me pensar no ser humano.
Quantas vezes
desistimos das pessoas antes de apostarmos tudo o que podemos e temos nelas?
Quantas vezes
deixamos ficar para trás alguém que, pode até ter metido os pés pelas mãos mas
que, com um bocadinho da nossa atenção, pode voltar a entrar nos carris e a
seguir no sentido certo?
Quantas vezes
seguimos o nosso caminho sem sequer olhar para quem não consegue seguir o seu?
A resposta é:
vezes demais.
Ver aquela
transformação e pensar no ser humano, fez-me ter a certeza que temos muito a
aprender com a natureza.
E, vendo bem, começando por mim.
Se às vezes digo que as flores sorriem – Alberto Caeiro
Se às vezes digo
que as flores sorriem
Olá Marta,
ResponderEliminarHistória magnífica. Na natureza vemos destas coisas que sentimos como singulares.
E é como dizes temos muito que aprender, e falo por mim tb...
Beijo,
Bruno
Olá Marta,
ResponderEliminarAdorei o post! A Vida é, sem dúvida, uma grande lição!
beijinho,
Mariana Sampaio de Freitas
Ler-te faz-me um bem danado à alma!
ResponderEliminarBeijinho, Marta!