Maria, menina Sofia, Lena,
D. Piedade, Gina, Maria José, Paula, Gorette, Lucy e, mais recentemente, Emília
e Alcione. Houve outras mas destas lembro-me bem.
E a pergunta é? O que
terão em comum estes nomes? Pois eu respondo. São os nomes de algumas senhoras
que, ao longo dos meus 37 anos, trabalharam em nossa casa. Algumas mais tempo,
outras menos. Mas todas, de alguma forma, me marcaram e, por isso, merecem
uma história só para elas. Aqui está.
Falemos da Maria. A Maria
devia ter uns 40 anos. Tinha um ar meio alucinado e três características maravilhosas.
1º, todos os dias de manhã trazia de sua casa duas carcaças com manteiga “para
as meninas”. A 2ª característica não era assim tão simpática: enquanto arrumava
a casa bebia o vinho todo que havia na dispensa. E a 3ª, penso eu que ligada à
segunda, fazia chichi na pia da cozinha (sim, a nossa casa em Alvalade era
antiga e, antes das obras que entretanto fizemos, ainda existiam pias ao lado
dos lava-loiças). Claro que, quando a 2ª e a 3ª foram descobertas, tivemos que
dispensar a Maria.
Depois vem a menina
Sofia. Não era propriamente uma menina, mas como já vinha com esse nome de casa
dos meus tios, onde já trabalhava há alguns anos, manteve-o. Ora, a menina Sofia
era tipo madame Rottenmeier, da Heidi. Ríspida, dura,
intransigente. Comigo e com a mana. Porque com o Pantufa, o nosso cão da
altura, era um doce. Gostava mais dele do que de nós. Ah, e obrigava-me a beber
sumo de maracujá, que ainda hoje odeio. Claro que quando ela virava as costas
por minutos, eu despejava o copo de sumo numa das plantas lá de casa. Note-se
que ditas murcharam em pouco tempo.
Agora a
Lena. Era uma jovem. Vaidosa. Sempre que podia, enfiava-se no quarto dos meus
pais onde passava o tempo a vestir as roupas da minha mãe, pintar-se com a sua
maquilhagem e a borrifar-se com os seus perfumes. Eu e a mana víamos
aquilo e não achávamos graça nenhuma. Um dia apanhámo-la distraída e, para a
castigarmos, decidimos trancar a Lena no quarto. E assim foi. Devíamos ter uns 4
ou 5 anos. Unimos as nossas mãos, ainda pequenas, agarrámos na
maçaneta da porta e, com todas as nossas forças…pumba, batemos com aquilo.
Falta dizer que aquela porta estava com um problema e, quando fechada desta
forma, dificilmente se abria. Foi preciso chamar a D. Susana, a vizinha do
andar de cima, quase nossa 2ª avó, para vir salvar a rapariga. E lá veio a
velhota, com um afiador de facas, tentar tirar a Lena ali de dentro. E eu e a
mana a rirmo-nos num dos cantos da sala. A operação de resgate demorou. A mãe entretanto
chegou a casa e deparou-se com aquele belo cenário. Claro que, quando a porta
finalmente se abriu, a Lena foi…simpaticamente dispensada. Mas atenção: ia
cheirosa. Viemos mais tarde a saber que até o leiteiro pensava que ela era irmã
da minha mãe porque, quando lhe abria a porta, estava sempre vestida com as
roupas iguais às da sua suposta “mana”.
Entramos na
era Piedade. A Piedade era pequenina e usava um coque grisalho no alto da
cabeça. Tinha uns 60 anos e cara de bruxa. Mas, coitada, não era má pessoa. Só
se transformava quando via na televisão o Torres Couto, na altura
secretário-geral da UGT. Quase que o comia. Um dia, antes de sair, estava a
Piedade na casa de banho a ajeitar o cabelo e retirou o coque. Nunca a tínhamos
visto sem aquilo na cabeça. Tinha o cabelo comprido. Até aos joelhos… Quando me
viu a mim e à minha irmã à espreita, olhou para nós com os olhos de bruxa que
tinha. A partir daí, ganhámos-lhe um medo de morte. Passado poucos dias, também
foi “à vida”.
Veio a Maria
José. Uma velhota com 70 anos que se mexia melhor que uma rapariga de 30. A
casa arrumada por ela ficava um brinco. Na altura eu já estava de cadeira de
rodas mas, como a minha cadeira não entrava na casa de Alvalade, e ela não podia comigo ao colo, a Maria José
esticava um cobertor no chão, sentava-me lá, e puxava-me pela casa, até ao
sítio onde eu queria ir! Não parava nunca. Só quando caiu em casa dela, partiu
uma perna e teve que deixar de trabalhar.
Passemos à Gina. Uma cabo-verdiana com 1m80, gira, gira. Mas estragada pela vida dura que levava. Gostava muito dela. Dava-me uma ajuda enorme. De tal maneira ficámos amigas, que era a única que, a par da minha mãe e irmã, eu deixava que me fizesse o penso a uma escara terrível que tinha feito na zona do coxis. Mas, apanhada em algumas mentiras, tivemos que a dispensar também.
Depois veio
a Paula. Baixinha e gordinha, devia ter a minha idade. Era a tal que arrumava a
casa a abrir para irmos as duas para a Sul América beber cafés e fumar
cigarros. Pegava em mim às cavalitas, descíamos 3 lances de escadas, sentava-me
na cadeira que ficava no hall do prédio, e lá íamos nós. Uma companheira. Mas
um dia apaixonou-se por um rapaz e decidiu seguir a sua vida.
Da Gorette
só me lembro porque era a senhora que trabalhava lá em casa no dia em que eu
fiquei de cadeira de rodas. Nesse dia era para vir de manhã mas não conseguiu e
ligou a dizer que vinha à tarde. Se tivesse vindo de manhã, talvez eu não
tivesse ficado de cadeira de rodas.
Foi durante
esta fase que eu e a mana eramos conhecidas como as irmãs metralha. Vá-se lá
saber porquê…
Depois
largámos Alvalade e fomos viver para a outra margem. Aqui tivemos a Linda, uma
cabo-verdiana loira de olhos verdes e cabelo aos caracóis, mas que passados uns
anos preferiu regressar à terra. Seguiu-se a Lucy, uma prima dela, boa rapariga,
caladona, brutamontes e metódica. Tão metódica que, quando era preciso começar
a arrumar a casa por uma divisão diferente, se baralhava toda. Ah, e era exímia
em dar-nos cabo de aspiradores. Na era Lucy, que durou quase 7 anos, devemos
ter tido uns 4. Chegamos, por fim, a 2012. E com a saída da Lucy e a morte do Gaspar – que largava pêlo por todo o lado, o que nos obrigava a aspirar a casa diariamente – optámos por contratar uma empresa para, uma vez por semana e em 2 horas, nos dar uma volta à casa. Apareceram-nos 2 irmãs brasileiras – a Emília e a Alcione. Enxutas, bem-dispostas, espertas que nem alhos, rápidas e que não estão ali para brincar. Acabamos por falar sempre um bocadinho, é certo, porque gosto delas, mas em duas horas a casa fica pronta. E num brinco.
E pronto, aqui deixo a minha homenagem a estas senhoras, de quem nunca ninguém fala mas que tanto nos ajudam diariamente. As nossas eram umas mais maradas que as outras, é certo, mas todas com algo em comum que sempre as distinguiu: partilharam e partilham o meu espaço. Fazem parte de importantes pedaços da minha vida. Estiveram lá e ajudaram no que puderam. Sem pensarem duas vezes. É por isso que também merecem estar aqui. É por isso que o meu agradecimento é público e de coração.
OLÁ QUERIDA.BOA NOITE!NÓS TEMOS MUITO APREÇO POR VOÇÊ E ADMIRAMOS MUITO SUA MANEIRA DE ESTAR NA VIDA!(ERES UN ENCANTO..MERECES LO MEJOR...)Beijinhos
ResponderEliminar